Carta
de Clarice Lispector para Fernando Sabino
Washington,
11 de dezembro de 1956, terça-feira
Fernando,
Estou
lendo o livro de Guimarães Rosa e não posso deixar de escrever a
você. Nunca vi coisa assim! É a coisa mais linda dos últimos
tempos. Não sei até onde vai o poder inventivo dele, ultrapassa o
limite imaginável. Estou até tola. A linguagem dele, tão perfeita
também de entonação, é diretamente entendida pela linguagem
íntima da gente – e nesse sentido ele mais que inventou, ele
descobriu, ou melhor, inventou a verdade. Que mais se pode querer?
Fico até aflita de tanto gostar. Agora entendo o seu entusiasmo,
Fernando. Já entendia por causa de Sagarana, mas este agora vai tão
além que explica ainda mais o que ele queria com Sagarana. O livro
está me dando uma reconciliação com tudo, me explicando coisas
adivinhadas, enriquecendo tudo. Como tudo vale a pena! A menor
tentativa vale a pena. Sei que estou meio confusa, mas vai assim
mesmo, misturado. Acho a mesma coisa que você: genial. Que outro
nome dar? Esse mesmo.
Me
escreva, diga coisas que você acha dele. Assim eu ainda leio melhor.
Um
abraço da amiga
Clarice.
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