quinta-feira, 12 de maio de 2016

Juana aos trinta

Depois de rezar as matinas e as laudes, põe um pião dançando em cima de farinha e estuda os círculos que ele desenha. Investiga a água e a luz, o ar e as coisas. Por que o ovo se une no óleo fervente e se despedaça em calda de açúcar? Em triângulos de alfinetes, busca o anel de Salomão. Com um olho grudado no telescópio, caça estrelas.
Ameaçaram-na com a Inquisição e lhe proibiram de abrir os livros, mas Sor Juana Inês de la Cruz estuda nas coisas que Deus criou, servindo-me elas de letras e de livro, toda esta máquina universal.
Entre o amor divino e o amor humano, entre os quinze mistérios do rosário pendurado em seu pescoço e os enigmas do mundo se debate Sor Juana; e muitas noites passa em branco, orando, escrevendo, quando recomeça em seu interior a guerra infinita entre a paixão e a razão. No final de cada batalha, a primeira luz do dia entra em sua cela no convento das jerônimas e ajuda Sor Juana a recordar o que disse Lupercio Leonardo, aquela frase que diz que bem se pode filosofar e temperar a ceia. Ela cria poemas na mesa e no forno, massas folhadas; letras e delícias para dar de presente, músicas da harpa de David curando Saul e curando também David, alegrias da alma e da boca condenadas pelos advogados da dor.
Só o sofrimento te fará digna de Deus – diz-lhe o confessor, que ordena que ela queime o que escreve, ignore o que sabe e não veja o que olhe.
Eduardo Galeano, in Mulheres

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