Depois
de rezar as matinas e as laudes, põe um pião dançando em cima de
farinha e estuda os círculos que ele desenha. Investiga a água e a
luz, o ar e as coisas. Por que o ovo se une no óleo fervente e se
despedaça em calda de açúcar? Em triângulos de alfinetes, busca o
anel de Salomão. Com um olho grudado no telescópio, caça estrelas.
Ameaçaram-na
com a Inquisição e lhe proibiram de abrir os livros, mas Sor Juana
Inês de la Cruz estuda nas coisas que Deus criou, servindo-me
elas de letras e de livro, toda esta máquina universal.
Entre
o amor divino e o amor humano, entre os quinze mistérios do rosário
pendurado em seu pescoço e os enigmas do mundo se debate Sor Juana;
e muitas noites passa em branco, orando, escrevendo, quando recomeça
em seu interior a guerra infinita entre a paixão e a razão. No
final de cada batalha, a primeira luz do dia entra em sua cela no
convento das jerônimas e ajuda Sor Juana a recordar o que disse
Lupercio Leonardo, aquela frase que diz que bem se pode filosofar e
temperar a ceia. Ela cria poemas na mesa e no forno, massas folhadas;
letras e delícias para dar de presente, músicas da harpa de David
curando Saul e curando também David, alegrias da alma e da boca
condenadas pelos advogados da dor.
– Só
o sofrimento te fará digna de Deus – diz-lhe o confessor, que
ordena que ela queime o que escreve, ignore o que sabe e não veja o
que olhe.
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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