Voltando
agora de uma noitada. Passei a mão num livro do Roberto Piva mais
cedo e achei 130 reais na página do poema que ele fala dos amigos
pederastas e barbudos. Aí colei num bar metade de concreto/madeira
caindo aos pedaços que também funciona como uma espécie de boca de
fumo e borracharia. Fiquei na minha fungando o amargo das desilusões.
Tenho sonhando com a minha ex-mulher. A mulher que quase casei e tive
filhos. A mulher que realmente abalou meu coração e me fez chorar
por longos meses. A mulher que me fez pensar na possibilidade de
escrever um poema épico num domingo e cometer suicídio. A mulher
que deixou Manaus para viver no interior de São Paulo. Geralmente
quando sonho com alguém seguidamente é pq a figura está precisando
de ajuda. Está doente ou morrerá em breve. Não que eu seja um
instrumento de Deus, profeta ou caralho a quatro. Apenas acontece de
eu ter pesadelos com a figura e depois ficar sabendo que ela fora
atropelada por um caminhão ou levou tiros num assalto. O lance é
que lá estava eu no bar escutando Lou Reed. Dei 10 reais para o dono
de o recinto enfiar o meu pendrive no computador e por alguns
instantes fechei os olhos e tentei imaginar minha ex numa situação
boa. Imaginei uma praia e ela correndo nua com um sorriso estampado
na cara. Depois a imaginei rolando num jardim e também cantando sua
música predileta no banheiro. São imagens clichês moldadas por
filmes americanos. O fato é que não queria incomodar Deus fazendo
uma oração ali no bar frequentado por marginais da pior espécie.
Pago de ateu, mas lá no fundo, lá no fundo mesmo acredito em Deus.
Tenho uma relação mal resolvida com Jesus. Uma mágoa que não cabe
falar agora. Talvez num outro conto cheio de verdades. Aí começou a
tocar a minha música predileta do Lou Reed. “Perfect Day” e
então acendi um cigarro para fumar lá fora olhando as estrelas.
Bateu uma puta saudade dela e quando a música terminou uma parte do
teto do segundo andar caiu junto com um cara de cueca que começou a
rir sem parar e pediu uma cerveja. Ele bebeu um gole e perguntou:
“diz aí, grandão. A vida é ou não é engraçada?” juro que
tentei concordar com ele, mas paguei a conta e dei as costas
caminhando pra casa rindo forçadamente feito psicopata. Às vezes a
gente se engana. Mente para si mesmo. A gente finge. Às vezes a
gente interpreta como se estivesse num filme com final feliz.
Diego
Moraes, in
ursocongelado.tumblr.com
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