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Era
uma vez um bando de patos selvagens que voava nas alturas. Lá de
cima se via muito longe, campos verdes, lagos azuis, montanhas
misteriosas e os pores-de-sol eram maravilhosos. Mas voar nas alturas
era cansativo. Ao final do dia os patos estavam exaustos.
Aconteceu
que um dos patos, quando voava nas alturas, olhou para baixo e viu um
pequeno sítio, casinha com chaminé, vacas, cavalos, galinhas… e
um bando de patos deitados debaixo de uma árvore.
Como
pareciam felizes! Não precisavam trabalhar. Havia milho em
abundância.
O
pato selvagem, cansado, teve inveja deles. Disse adeus aos
companheiros, baixou seu voo e juntou-se aos patos domésticos.
Ah!
Como era boa a vida, sem precisar fazer força. Ele gostou, fez
amizades. O tempo passou. Primavera, verão, outono, inverno…
Chegou
de novo o tempo da migração dos patos selvagens. E eles passavam
grasnando, nas alturas…
De
repente o pato que fora selvagem começou a sentir uma dor no seu
coração, uma saudade daquele mundo selvagem e belo, as coisas que
ele via e não via mais: os campos, os lagos, as montanhas, os
pores-de-sol. Aqui em baixo a vida era fácil, mas os horizontes eram
tão curtos! Só se via perto!
E
a dor foi crescendo no seu peito até que não aguentou mais.
Resolveu voltar a juntar-se aos patos selvagens. Abriu suas asas,
bateu-as com força, como nos velhos tempos. Ele queria voar! Mas
caiu e quase quebrou o pescoço. Estava pesado demais para o voo.
Havia engordado com a boa vida… E assim passou o resto de sua vida,
gordo e pesado, olhando para os céus, com nostalgia das alturas…
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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