É
fácil conviver com os raivosos e lineares, mas não com os capciosos
e oblíquos. O oblíquo, por sua própria natureza, é cheio de
ângulos, de arestas, de sinuosidades. Como personagens, são
extraordinários. Jamais são planos. Sempre redondos. Mas a vida não
é literatura.
Na
vida, você diz A, e o oblíquo entende A1. Ou ele diz A, mas é
preciso entender que está dizendo A1. Essa pequena distorção,
aparentemente insignificante, de meio grau, um grau, é, no entanto,
venenosa, destrutiva.
O
oblíquo, em geral, se trai por uma expressão típica:
—
Sim,
mas...
O
oblíquo não é capaz de dizer não. O não, para ele, é um
anátema, um desaforo, um excesso de autenticidade.
Ao
dizer “Sim, mas...”, ele concorda contigo, mas a própria
expressão idiomática é uma contradição. Se é sim, é sim. Não
há mas. Se há mas, não há sim. É simples, é uma questão de
lógica, e de caráter.
O
mas é a distorção – de meio grau, um grau. E é aí, nesse vão,
nessa fissura, que penetra a subjetividade do oblíquo.
Um
diálogo, com um oblíquo, é um monólogo. Porque ele não fala
contigo, ele fala com a subjetividade dele, ele fala com a distorção.
E quanto mais longa e generosa for a tua tentativa de comunicação
genuína com um oblíquo, mais se abrirá a distância entre A e A1,
embora o ângulo continue de meio grau, um grau. Aí quando
reclamares, o oblíquo sorrirá com bonomia, como se dissesse: mas é
só meio grau, estás fazendo tempestade em copo d´água.
Charles
Kiefer,
in Para
ser escritor
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