De
noite, tornou a chover. Ficou ouvindo o borbotar da água durante
muito tempo; deve ter dormido em seguida, porque quando despertou só
se ouvia um chuviscar calado. Os vidros das janelas estavam opacos, e
do outro lado as gotas deslizavam em fios grossos como lágrimas.
“Olhava as gotas caindo, iluminadas pelos relâmpagos, e cada vez
que respirava, suspirava, e cada vez que pensava, pensava em você,
Susana.”
A
chuva se transformava em brisa. Ouviu: “O perdão dos pecados e a
ressurreição da carne. Amém.” Isso era aqui dentro, onde umas
mulheres rezavam o final do rosário. Levantavam-se; prendiam os
pássaros; trancavam a porta; apagavam a luz. Só restava a luz da
noite, o ciciar da chuva como um murmúrio de grilos...
— Por
que você não foi rezar o rosário? Estamos na novena do seu avô.
Lá
estava sua mãe no umbral da porta, com uma vela na mão. Sua sombra
escorrida rumo ao teto, longa, estendida. E as vigas do teto a
devolviam aos pedaços, despedaçada.
— Estou
triste — disse.
Então
ela se virou. Apagou a chama da vela. Fechou a porta e abriu seus
soluços, que continuaram sendo ouvidos confundidos com a chuva.
O
relógio da igreja badalou as horas, uma atrás da outra, uma atrás
da outra, como se o tempo tivesse encolhido.
Juan
Rulfo, in Pedro Páramo
Nenhum comentário:
Postar um comentário