quinta-feira, 3 de março de 2016

Injeção

Observei o cuidado com que a enfermeira preparava a injeção de Citoneurin que iria me aplicar, dolorida como brasa. O algodão embebido em álcool desinfetava minha pele para que não houvesse perigo de infecção. Esses cuidados são norma médica obrigatória. Enquanto a brasa entrava no meu músculo eu pensava se os médicos ou enfermeiros, nas penitenciárias, encarregados de aplicar a injeção letal nos condenados à morte – eu pensava se eles desinfetavam o local onde a agulha ia entrar na pele do condenado... O que é que Kant teria a dizer? Ele diria que a pele do condenado deveria ser desinfetada para que ele não morresse de infecção…
Rubem Alves, in Do universo à jabuticaba

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