terça-feira, 15 de março de 2016

Do som do H

Google Imagens

Fui acordado por Sofia, minha filha de sete anos, às seis horas, certa manhã, com um problema linguístico e filosófico:
Pai, este tal de H é muito difícil. Ele não tem som!
Fiz com que ela repetisse a questão, meio incrédulo e já ínsono:
Pai, este tal de H é muito difícil. Ele não tem som!
Depois de ouvir outra vez a sua categórica afirmação, tentei explicar:
É que as palavras não são apenas a reprodução do som – e parei aí, antes que eu enveredasse por explicações filogenéticas. – Sabe de uma coisa, Sofia? Esse H é um chato, aparece na festa das palavras sem ser convidado! E, além disso, é um exibido que caminha com pernas de pau!
Felizmente, ela riu e me contou um sonho que tivera, e que agora não lembro.
Algum tempo depois, na sala, depois do café matinal, perguntou-me o que era esporte.
Pego de surpresa, balbuciei em voz alta: — Do latim, não é. Será que vem do grego?
Vem do inglês, pai, sport. Mas eu quero saber o que significa?
Não sei, Sofia, o que significa a palavra sport...
Será que esporte começou num porto? – pensei com meus botões. E o que será pensar com botões? De onde terá vindo essa expressão “pensar com meus botões”?
Essas crianças, alimentadas a TV e computador, estão se tornando infernalmente inteligentes.
Não virá daí o arzinho de enfado e arrogância que, às vezes, percebo no rosto dos meus alunos?
E pensar que eu, aos sete ou oito anos, ainda achava que olimpíada era um concurso de piada…
Charles Kiefer, in Para ser escritor

Nenhum comentário:

Postar um comentário