terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Elena

Enquanto esperava o trem para Monteux, Elena examinava as pessoas que a cercavam na plataforma. Toda viagem lhe despertava a mesma curiosidade e esperança que se sente diante de uma cortina que é erguida em um teatro, a mesma expectativa e ansiedade. Separou mentalmente vários homens com quem gostaria de conversar, perguntando-se se eles iriam viajar ou se estariam presentes apenas para se despedir de outros passageiros. Seus anseios eram vagos, poéticos. Se alguém lhe perguntasse o que estava esperando, poderia muito bem responder: ‘Le merveilleux’ O tipo da coisa imprecisa, que não se originava de qualquer região precisa de seu corpo. Era verdade o que alguém lhe dissera depois de ter criticado um escritor que conhecera: ‘Você não pode vê-lo como ele realmente é, você não é capaz de ver ninguém com seu rosto e sua verdadeira personalidade. Sempre se sentirá desapontada porque sempre estará esperando por um certo alguem’. Sim, ela estava esperando que aparecesse alguém muito especial, toda vez que uma porta se abria, sempre que ia a uma festa, que se aproximava de qualquer grupo de pessoas, quando entrava em um café ou em um teatro. Nenhum dos homens que selecionara como companhias desejáveis para sua viagem tomou o trem. Restava-lhe o livro que trouxera: O amante de Lady Chatterley.”
Anais Nin, in Delta de Vênus

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