“A
morte deveria ser assim: um céu que pouco a pouco anoitecesse e a
gente nem soubesse que era o fim...”
Seu
Glicínio, porteiro, acredita que rato, depois de velho, vira
morcego. É uma crença que ele traz da sua infância. Não o
desiludas com teu vão saber, respeita-lhe os queridos enganos. Nunca
se deve tirar o brinquedo de uma criança, tenha ela oito ou oitenta
anos!
Sempre
fui metafísico. Só penso na morte, em Deus e em como passar uma
velhice confortável.
Há
ruídos que não se ouvem mais; o grito desgarrado de uma locomotiva
na madrugada; os apitos dos guardas-noturnos; os barbeiros que faziam
cantar o ar com suas tesouras; a matraca do vendedor de cartuchos; a
gaitinha do afiador de facas. Todos esses ruídos que apenas rompiam
o silêncio. E hoje o que mais se precisa é de silêncios que
interrompam o ruído…
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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