Seu
Tonheiro ajeitava a boleia, limpando o assento, onde só ficavam ele
e o ajudante. Caso aparecesse uma mulher grávida, o ajudante
mudava-se para a carroceria.
Lá
em cima misturavam-se todos. Passageiros, mangaeiros, bodes,
galinhas, porcos, panelas, bacias, arreios. O caminhão saía de Olho
D’água do Borges com destino a Caicó.
Os
internos do Diocesano Seridoense, moradores da região, eram
fregueses de vinda, nas férias; e de ida, ao retorno das aulas.
Companheiros de viagem, que não tinham outro meio de transporte.
Feirantes
de Umarizal, Olho D’água, Caraúbas, Patu, Brejo do Cruz, Belém
da Paraíba, Jardim de Piranhas e Caicó. A saída, no começo da
noite. A chegada, dependendo dos pregos, podia ser no começo do dia.
Normalmente, sem atropelos, entrávamos na ponte do “Barra Nova”
por volta da meia noite.
Seu
Tonheiro não conversava com ninguém. Era o ajudante, Juvenal, quem
transmitia as ordens. Quando estávamos todos aboletados, que deveria
dizer carroceirados, Juvenal subia com uma lona azul dobrada e a
jogava na proximidade do gigante. Transmitia as ordens do chefe: “Taí
a lona, pro caso de chuva. A banda dela que não tem furo é para
cobrir os bichos. A banda furada é pra cobertura do povo”.
Dada
a ordem, ele pulava e corria para a boleia. Todos cumpriam. Seu
Tonheiro era apenas a síntese da elite brasileira. E ordem é pra
ser cumprida. Isto é, pelos fracos. A austeridade não chega à
soleira dos que mandam, desmandam ou fiscalizam. Mas isso é outra
história.
Juvenal
era o fiel escudeiro. Só ficava triste quando via chegar uma mulher
buchuda.
Contam
que numa dessas viagens, o caminhão quase não chega ao destino.
Quebrou logo na saída, obrigando Juvenal a voltar a pé para buscar
um mecânico em Olho D’água.
Novamente
teve um esquentamento no motor, entre Patu e Brejo do Cruz. Foram
horas de espera. Tudo debaixo de uma neblina permanente. Tempo
chuvoso, de inverno bom, numa noite de plenilúnio. Escuro de breu.
Estrelas de vaga-lumes, na proximidade. E pirilampos no céu
distante.
Tempos
de florada do mofumbo que espera sugar a seiva doce do massapê do
brejo. E a jaramataia fincar raízes no leito corrente dos riachos,
que viajam alisando pedras.
Na
banda da lona furada, protegiam-se Tião e Dina. Iam para uma receita
com o Dr. Isauro, lá do Caicó.
No
balançar dos catabis, Dina sentiu duas mãos subindo por suas
pernas. Aproximando-se da sua intimidade. Continuou ressonando, para
parecer dormindo, pois imaginava ser de Tião aquelas mãos. Sem
reação da dona, as mãos ocuparam o corpo. E agora já era um corpo
que se arranchava sobre Dina.
Dina
chamou: “Bastião”! Tião respondeu: “Oi”… E Dina: “Ocê
tá n’eu”? Nova resposta de Tião: “Eu não…tava inté
durmino”. Dina falou quase gemendo: “Intão…tão”.
François
Silvestre,
in
blogs.portalnoar.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário