Uma
mulher e um homem celebram, em Buenos Aires, trinta anos de casados.
Convidam outros casais daqueles tempos, gente que não se via há
anos, e sobre a toalha amarelenta, bordada para o casamento, todos
comem, riem, brindam, bebem. Esvaziam umas quantas garrafas, contam
piadas picantes, engasgam de tanto comer e rir e trocar tapinhas nas
costas. Em algum momento, passada a meia-noite, chega o silêncio. O
silêncio entra, se instala; vence. Não há frase que chegue até a
metade, nem gargalhada que não soe como se estivesse fora do lugar.
Ninguém se atreve a ir embora. Então, não se sabe como, começa o
jogo. Os convidados brincam de quem leva mais anos morto.
Perguntam-se entre si quantos anos faz que você está morto: não,
não, se dizem, vinte anos não: você está diminuindo. Você leva
vinte e cinco anos morto. E é isso.
Alguém
me contou, na revista, esta estória de velhices e vinganças
ocorridas em sua casa na noite anterior. Eu terminava de escutá-la
quando tocou o telefone. Era uma companheira uruguaia que me conhecia
pouco. De vez em quando vinha me ver para passar informação
política, ou para ver o que se podia fazer por outros exilados sem
teto nem trabalho. Mas agora não me telefonava para isso. Esta vez
telefonava para me contar que estava apaixonada. Disse-me que
finalmente tinha encontrado o que havia estado buscando sem saber que
buscava e que precisava contar para alguém e que desculpasse o
incômodo e que ela tinha descoberto que era possível dividir as
coisas mais profundas e queria contar porque é uma boa notícia,
não? e não tenho a quem contá-la e pensei.
Contou-me
que tinham ido juntos ao hipódromo pela primeira vez na vida e
ficaram deslumbrados pelo brilho dos cavalos e dos blusões de seda.
Tinham uns poucos pesos e apostavam tudo, certos de que ganhariam,
porque era a primeira vez, e tinham apostado nos cavalos mais
simpáticos ou nos nomes mais engraçados. Perderam tudo e voltaram a
pé e absolutamente felizes pela beleza dos animais e a emoção das
corridas e porque eles também eram jovens e belos e capazes de tudo.
Agora mesmo, me disse ela, morro de vontade de ir na rua, tocar
corneta, abraçar as pessoas, gritar que eu amo e que nascer é uma
sorte.
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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