“É
só um ano, dizia. Como
se um ano fosse pouco para quem levou cinquenta a encontrar-se.
Apeteceu-me gritar-lhe que cada dia da nossa vida tem de recuperar as
décadas em que nos amávamos às escuras, tateando corpos errados,
desconhecendo a existência um do outro. Mas não tinha o direito de
fazer isso - neste ano de ausência serei obrigado a aprender esse
amor difícil que toda a viva evitei. Ocultei o meu desamor no clarão
verde dos olhos de Clarisse, como antes de a conhecer o ocultava em
todas as imitações de amor que me apareciam.”
Inês
Pedrosa,
in Desamparo
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