“Vivemos
mesquinhamente, quais formigas, ainda que a fábula nos relate que há
muito tempo atrás fomos transformados em homens; como os pigmeus
lutamos com gruas; e é erro sobre erro, remendo sobre remendo, e a
nossa melhor virtude decorre de uma miséria supérflua e evitável.
A nossa vida é estilhaçada pelo pormenor.
Um
homem honesto dificilmente precisa de contar para além dos seus dez
dedos das mãos, acrescentando, em caso extremo, os seus dez dedos
dos pés, e o resto que se amontoe. Simplicidade, simplicidade,
simplicidade! Digo: ocupai-vos de dois ou três afazeres, e não de
cem ou mil; contai meia dúzia em vez de um milhão e tomai nota das
receitas e despesas na ponta do polegar. A meio do agitado mar da
vida civilizada, tantas são as nuvens, as tempestades, as areias
movediças, tantos são os mil e um imprevistos a ser levados em
conta, que para não se afundar, para não ir a pique antes de chegar
ao porto, um homem tem de ser um grande calculista para lograr êxito.
Simplificar,
simplificar, simplificar. Em vez de três refeições por dia, se
preciso for, comer apenas uma; em vez de cem pratos, cinco; e reduzir
proporcionalmente as outras coisas. A nossa vida é como uma
Confederação Germânica, composta de insignificantes Estados e com
as fronteiras sempre a flutuar, de modo que nem uma alemão sabe, em
dado momento, dizer quais são.”
Henry
David Thoreau,
in
Walden
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