sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O telefonema


TRIMMMMMMMMMMMMMMMMM…
Alô…
É da casa de dona Eugênia?
Sim, é ela.
Ligação a cobrar, minha senhora. Posso completar?
Quem é? De onde é?
Uma ligeira pausa.
A pessoa diz que é do seu interesse, minha senhora… Vou completar.
Mas…
Uma voz estranha, diferente, metálica do outro lado.
Alô, sou eu…
Eu quem? Quem está falando?
Não reconhece a minha voz?
Tapa um dos ouvidos. Espicha o pescoço.
A ligação está muito ruim…
Sou eu, seu marido.–
Alguns estalidos e chiados na linha.
Não estou ouvindo direito.
Estou ligando para avisar que morri ontem.
O quê? Quem morreu?
Eu. Seu marido.
Alô, alô, telefonista… Alô…
Mexe nas teclas, bate no telefone.
CLIC. Desligaram.
Já não se dão mais trotes como antigamente… – pensou dona Eugênia enquanto colocava o telefone no gancho.
Voltou a folhear o jornal. Foi quando viu a notícia estampada em tipos bem negros, com uma foto dele que lhe parecia sorrir: exatamente como no dia do casamento.
José de Castro, in www.substantivoplural.com.br

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