“Julga
que se conhece, se não se construir de algum modo? E julga que eu
posso conhecê-lo, se não o construir à minha maneira? E julga que
me pode conhecer, se não me construir à sua maneira? Só podemos
conhecer aquilo a que conseguimos dar forma. Mas que conhecimento
pode ser esse? Não será essa forma a própria coisa? Sim, tanto
para mim como para si; mas não da mesma maneira para mim e para si:
isso é tão verdade que eu não me reconheço na forma que você me
dá, nem você se reconhece na forma que eu lhe dou; e a mesma coisa
não é igual para todos e mesmo para cada um de nós pode mudar
constantemente. E, contudo, não há outra realidade fora desta, a
não ser na forma momentânea que conseguimos dar a nós mesmos, aos
outros e às coisas. A realidade que eu tenho para si está na forma
que você me dá; mas é realidade para si, não é para mim. E, para
mim mesmo, eu não tenho outra realidade senão na forma que consigo
dar a mim próprio. Como? Construindo-me, precisamente.”
Luigi
Pirandello,
in
Um, Ninguém e Cem Mil
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