quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Fazer

“Sair, fazer, pôr em dia, não eram coisas que o ajudavam a adormecer. Pôr em dia. Que raio de expressão! Fazer. Fazer algo, fazer o bem, fazer xixi, fazer hora: a ação em todas as suas complicações. Contudo, por trás de toda e qualquer ação, havia sempre um protesto, pois todo fazer significava sair de para chegar a, ou mover algo para que ficasse aqui e não ali, ou entrar numa determinada casa em vez de entrar ou não entrar na casa ao lado, o que significava que em qualquer ato havia sempre a confissão de uma falha, de algo ainda não feito e que era possível fazer, o protesto tácito diante da contínua evidência da falha, da mesmice, da imbecilidade do presente.”
Julio Cortázar, in O jogo da Amarelinha

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