“(…) confessou que andava farto
das reuniões sempre iguais e sem graça da pretensa POESIA NOVA. a poesia
continua sendo a maior picaretagem de esnobes no terreno das Artes, com
panelinhas literárias lutando por prestígio. ainda acho que o maior antro
de pedantes inventado até hoje foi o velho grupo da MONTANHA NEGRA. e Creeley
continua sendo temido, dentro e fora das universidades – temido e admirado -,
mais que qualquer outro poeta. depois temos os acadêmicos, que, como Creeley,
escrevem tudo certinho. no fundo, a poesia de maior aceitação hoje em dia ocupa
uma redoma de vidro, vistosa e escorregadia, e aquecida pelo sol ali dentro
existe uma junção de palavras formando um todo meio metálico e desumano ou um
ângulo semiescondido. é uma poesia para milionários e gordos desocupados, e
portanto sempre conta com mecenas e sobrevive, pois o segredo consiste em
reunir um bando de eleitos e o resto que se foda. mas é uma poesia sem vida,
chatérrima, a tal ponto que a sua insipidez é interpretada como possuindo
um significado oculto – o significado está oculto, evidentemente, e
de maneira tão perfeita que é o mesmo que se não existisse. mas se VOCÊ não
consegue descobri-lo, é por falta de alma, sensibilidade e não sei mais o quê,
portanto TRATE DE DESCOBRIR SENÃO VAI SE SENTIR HUMILHADO. e se por acaso não
descobrir, então, BICO CALADO.
a todas
essas, cada 2 ou 3 anos, algum acadêmico, querendo garantir seu lugar na
hierarquia universitária (e se você pensa que o Vietnã é um inferno, precisa
ver o que acontece entre essas chamadas sumidades em matéria de guerras de
intriga e poder dentro de seus próprios cubículos), apresenta a mesma velha
antologia de poemas sintéticos e sem culhões com o rótulo de A NOVA POESIA ou A
NOVÍSSIMA POESIA, que sempre vem a dar no mesmo baralho de cartas marcadas.”
Charles Bukowski, in Fabulário geral do delírio cotidiano:
ereções, ejaculações e exibicionismo: parte II
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