“Quem é alegre tem sempre razão de sê-lo, ou seja,
justamente esta, a de ser alegre. Nada pode
substituir tão perfeitamente qualquer outro bem quanto esta qualidade, enquanto
ela mesma não é substituível por nada. Se alguém é jovem, belo, rico e
estimado, então perguntemos, caso queiramos julgar a sua felicidade, se é
também jovial. Se, pelo contrário, ele for jovial, então é indiferente se é
jovem ou velho, ereto ou corcunda, pobre ou rico; é feliz.
Na primeira juventude, abri certa vez um
livro velho e lá estava escrito: ‘Quem muito ri é feliz, e quem muito chora é
infeliz’ - uma observação bastante ingênua, mas que não pude esquecer devido à
sua verdade singela, por mais que fosse o superlativo de uma verdade evidente.
Por esse motivo, devemos abrir portas e janelas à jovialidade, sempre que ela
aparecer, pois ela nunca chega em má hora, em vez de hesitar, como muitas vezes
o fazemos, em permitir a sua entrada, só porque queremos saber primeiro, em
todos os sentidos, se temos razão para estar contentes. Ou ainda, porque
tememos que ela nos perturbe nas nossas ponderações sérias e preocupações
importantes. Todavia, é muito incerto que elas melhorem a nossa condição; em
contrapartida, a jovialidade é ganho imediato. Apenas ela, por assim dizer, é a
moeda corrente da felicidade, e não, como o restante, mero talão de banco,
porque apenas ela torna imediatamente feliz no presente; por essa razão, é o
bem mais elevado para seres cuja realidade tem a forma de um presente
indivisível entre dois tempos infinitos. Assim, deveríamos antepor a aquisição
e a promoção desse bem a quaisquer outras aspirações.”
Arthur
Schopenhauer, in Aforismos para a Sabedoria de Vida
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