“Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu
pelejei para achar, era uma só coisa – a inteira – cujo significado e
vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a
norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver – e essa pauta cada
um tem – mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho,
por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Tem que
ter. Se não, a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doideira que
é. E que: para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que
consegue ser a certa. Aquilo está no encoberto; mas, fora dessa consequência,
tudo o que eu fizer, o que o senhor fizer, o que o beltrano fizer, o que
todo-o-mundo fizer, ou deixar de fazer, fica sendo falso, e é o errado. Ah,
porque aquela outra é a lei, escondida e vivível mas não achável, do verdadeiro
viver: que para cada pessoa, sua continuação, já foi projetada, como o que se
põe, em teatro, para cada representador – sua parte, que antes já foi
inventada, num papel...”
Fala de Riobaldo, in Grande sertão:
veredas, de Guimarães Rosa
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