quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Canção do Tamoio


I
Não chores, meu filho;
 Não chores, que a vida
É luta renhida; 
Viver é lutar. 
A vida é combate
Que os fracos abate, 
Que os fortes, os bravos, 
Só pode exaltar. 

II
Um dia vivemos! 
O homem que é forte 
Não teme da morte; 
Só teme fugir; 
No arco que entesa
Tem certa uma presa 
Quer seja Tapuia, 
Condor ou Tapir.

III
O forte, o covarde 
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz; 
E os tímidos velhos
Nos graves conselhos, 
Curvadas as frontes, 
Escutam-lhe a voz!

IV
Domina, se vive; 
Se morre, descansa, 
Dos seus na lembrança, 
Na voz do porvir. 
Não cures da vida! 
Sê bravo, sê forte! 
Não fujas da morte, 
Que a morte há de vir! 

V
E pois que és meu filho. 
Meus brios reveste: 
Tamoio Nasceste, 
valente serás. 
Sê duro guerreiro, 
Robusto, fragueiro, 
Brasão dos Tamoios 
Na guerra e na paz. 

VI
Teu grito de guerra 
Retumba aos ouvidos
D'inimigos transidos 
Por vil comoção; 
E tremam d'ouví-lo 
Pior que o sibilo 
Das setas ligeiras, 
Pior que o trovão. 

VII
E a mãe nessas tabas
Querendo calados 
Os filhos criados
Na lei do terror; 
Teu nome lhes diga
Que a gente inimiga 
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor! 

VIII
Porém se a fortuna
Traindo teus passos, 
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz, 
Na última hora
Teus feitos memora
Tranquilo nos gestos,
Impávido, audaz. 

IX
E cai como o tronco
Do raio tocado, 
Partido, rojado
Por larga extensão; 
Assim morre o forte! 
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X
As armas ensaia,
Penetra na vida; 
Pesada ou querida, 
Viver é lutar. 
Se o duro combate 
Os fracos abate, 
Aos fortes, aos bravos
Só pode exaltar. 
Gonçalves Dias

Nenhum comentário:

Postar um comentário