sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Soneto XXXII


Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saia a brincar pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia, de papel, toda uma armada
e, estendendo o meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...

Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,

perfeitamente, exatamente iguais...
- Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
Guilherme de Almeida

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