“Toda a virtude assenta na justa medida,
e a justa medida baseia-se em proporções determinadas. A firmeza não pode
sequer tentar elevar-se, e o mesmo se dirá da confiança, da verdade, da
lealdade. Pode acrescentar-se alguma coisa àquilo que é perfeito? Nada, de
outro modo não seria perfeito, pois algo se lhe acrescentou. Nada, por
conseguinte, se pode adicionar à virtude, pois se tal fosse possível era porque
algo lhe faltava. Também a honestidade não é passível de qualquer acréscimo,
pois o que é a honestidade decorre do raciocínio acima exposto. E quanto ao
mais, o respeito pelas normas sociais, a justiça, a legalidade, não achas que
são conceitos do mesmo tipo, definidos por critérios igualmente rigorosos? Para
uma coisa ser suscetível de acréscimo essa coisa tem de ser imperfeita. Todo o
bem obedece a esta mesma lei: o interesse privado e o interesse público são tão
dissociáveis como, que sei eu?, aquilo que merece o louvor se não distingue do
que merece o nosso esforço. Por conseguinte, todas as virtudes são tão iguais
entre si como todas as realizações da virtude e todos os homens dotados dessas
virtudes”.
Sêneca, in Cartas
a Lucílio
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