sexta-feira, 5 de julho de 2013

Cao Guimarães: pequenos impulsos para grandes saltos

Cao Guimarães é um artista e cineasta que tem se empenhado para diminuir a distância entre esses dois campos, mas que, de fato, sempre foi visto mais confortavelmente no circuito de galerias e bienais do que nas salas de cinema. Uma amostra significativa de sua produção, que inclui também seus longa-metragens, está sendo exibida agora no Itaú Cultural, em São Paulo.
O título da mostra, Ver é uma fábula, é emprestado do livro Catatau, de Paulo Leminski, e nos desarma das questões que tendemos a colocar sobre a veracidade daquilo que os meios técnicos mostram: a vocação para a ficcionalização e para a reinvenção dos sentidos está na percepção, não começa e nem termina com a intervenção da câmera.
Para colocar em diálogo trabalhos distintos, a curadoria utiliza o espaço expositivo quase ao modo das instalações. Elas conduzem o espectador por esse espaço, mas discretamente, sem desejar imprimir qualidades alheias aos trabalhos mostrados.
Nesse conjunto, vemos que Cao Guimarães alcança uma combinação rara na arte contemporânea: projetos que não exigem conceituações prolixas, que detém o olhar em sua plasticidade bem cuidada, que convidam também à contemplação e ao silêncio, sem ansiedade para se desdobrar em explicações.

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Cao Guimarães, da série Gambiarras, 2001-2012

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Cao Guimarães, da série Gambiarras, 2001-2012

Surpreende a economia de recursos em muitos trabalhos: seus gestos são comedidos e os movimentos mínimos, ou lentos ou, pelo menos, duram o tempo necessário para serem apreendidos, e raramente chegam a compor narrativas. Como diz o artista, o que busca são os “microdramas da forma”. Nada a ver com a defesa de uma estética formalista, mas com a ideia de que os eventos ganham sentido e coesão também por meio de seus pequenos incidentes.
Isso também fica evidente na projeção de fotos da série Gambiarras (2001-2012), espécie de etnografia dos esforços de adaptação e sobrevivência, que são próprios do “terceiro mundo”, como sugere o artista. Nessa série, assim como no vídeo Mestres da Gambiarra (2008), vemos o valor estético e funcional de uma bricolagem praticada cotidianamente, que tira proveito dos encontros mais improváveis entre as coisas.
Veja matéria e vídeos completos aqui.

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