sábado, 16 de março de 2013

Lampião e Lancelote

"Lampião e Lancelote" é um livro escrito e ilustrado por Fernando Vilela e retrata o lendário encontro do famoso cangaceiro do sertão nordestino com um dos cavaleiros medievais da Távola-Redonda. Sua recente adaptação para o teatro foi realizada pelo escritor e compositor Braulio Tavares, que também participa da criação da trilha sonora em parceria com Zeca Baleiro.

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Foto: Julia Moraes/SESI

O que aconteceria se o famoso cangaceiro do sertão nordestino se encontrasse com um dos cavaleiros medievais da Távola-Redonda? Esse lendário encontro foi escrito e ilustrado por Fernando Vilela e utiliza o duelo entre as duas figuras como mote para compor a obra. Lampião e Lancelote (Cosac Naify, 2006) mescla versos (sextilha do cordel sertanejo) e prosas (narrativas épicas medievais), utilizando técnicas e cores distintas, como a xilogravura (cobre) e o carimbo (prata), que enriquecem visualmente o encontro épico. O compositor e escritor Braulio Tavares assina a quarta capa de Lampião e Lancelote e define a obra como uma "aventura visual e poética à altura das duas culturas que a inspiraram". A parceria entre Vilela e Tavares que deu tão certo que a obra transformou-se em peça teatral, adaptada pelo poeta campinense.

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Trecho do livro Lampião e Lancelote (Cosac Naify, 2006), escrito e ilustrado por Fernando Vilela

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Trecho do livro Lampião e Lancelote (Cosac Naify, 2006), escrito e ilustrado por Fernando Vilela

Muitos são os símbolos que estabelecem a divisão entre os universos de Lampião e Lancelote: o quente e o frio, a peixeira e a espada (até mesmo o emprego dos termos "peleja" e o "duelo" ratificam esses universos distintos). O jogo de luzes quentes e frias brinca com a "divisão de mundos" criando contrapontos visuais, de modo a reconstruir suas atmosferas e as personalidades dos dois povos. Há também uma "disputa", mais indireta, que se desenvolve durante a trama definindo o modo pelo qual as mulheres dos heróis Lampião e Lancelote - Maria Bonita e Morgana - travam relações com seus parceiros íntimos.

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Foto: Julia Moraes/SESI

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Foto: Julia Moraes/SESI

Muitos são os símbolos que estabelecem a divisão entre os universos de Lampião e Lancelote: o quente e o frio, a peixeira e a espada (até mesmo o emprego dos termos "peleja" e o "duelo" ratificam esses universos distintos). O jogo de luzes quentes e frias brinca com a "divisão de mundos" criando contrapontos visuais, de modo a reconstruir suas atmosferas e as personalidades dos dois povos. Há também uma "disputa", mais indireta, que se desenvolve durante a trama definindo o modo pelo qual as mulheres dos heróis Lampião e Lancelote - Maria Bonita e Morgana - travam relações com seus parceiros íntimos.

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Foto: Julia Moraes/SESI

Mas se a atmosfera visual de Lampião e Lancelote encanta, seu universo sonoro é igualmente fascinante e envolvente. A linguagem do Cordel e da novela de cavalaria ganharam uma rica trilha sonora, fruto da parceria de Braulio Tavares e Zeca Baleiro. Podemos considerar a rabeca (um dos instrumentos que é tocado ao vivo durante o espetáculo) como o instrumento que melhor representaria nosso sincretismo cultural: ela também é conhecida como o "violino brasileiro" e, apesar de seu tom ser mais baixo e de não possuir um padrão universal de construção como seu parente europeu, tornou-se um instrumento popular na Península Ibérica e chegou ao Brasil durante a colonização portuguesa.
Já disse Câmara Cascudo que "a atitude de cantar é uma afirmativa imediata, suprema, irrespondível, de elevação. É um ludus no nível divinizador do impulso sonoro, comunicação com as forças confusas, abstratas, envolvedoras da inspiração." A música nasce para perpetuar "causos", mitos, alegrias e dores, conquistas e derrotas; serve aos povos como elo de ligação cultural e reforça crenças. Humaniza. E transcende os limites do tempo e do espaço ao recriar constantemente o ritmo da história de todos nós.
A peça fica em cartaz de 14 de março a 30 de junho de 2013 no Centro Cultural Fiesp Ruth Cardoso, Teatro Sesi - São Paulo.
Anna Anjos, in lounge.obviousmag.org

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