“De início, portanto, em vez de perguntar o que é
religião, eu preferiria indagar o que caracteriza as aspirações de uma pessoa
que me dá a impressão de ser religiosa: uma pessoa religiosamente esclarecida
parece-me ser aquela que, tanto quanto lhe foi possível, libertou-se dos
grilhões, dos seus desejos egoístas e está preocupada com pensamentos,
sentimentos e aspirações a que se apega em razão do seu valor suprapessoal.
Parece-me que o que importa é a força desse conteúdo suprapessoal, e a
profundidade da convicção na superioridade do seu significado, quer se faça ou
não alguma tentativa de unir esse conteúdo com um Ser divino, pois, de outro
modo, não poderíamos considerar Buda e Espinoza como personalidades religiosas.
Assim, uma pessoa religiosa é devota no sentido de não ter nenhuma dúvida quanto
ao valor e eminência dos objetivos e metas suprapessoais que não exigem nem
admitem fundamentação racional. Eles existem, tão necessária e corriqueiramente
quanto ela própria.
Nesse sentido,
a religião é o antiquíssimo esforço da humanidade para atingir uma clara e
completa consciência desses valores e metas e reforçar e ampliar
incessantemente o seu efeito. Quando concebemos a religião e a ciência segundo
estas definições, um conflito entre elas parece impossível. Pois a ciência pode
apenas determinar o que é, não o que deve ser, isso está fora do seu domínio,
logo todos os tipos de juízos de valor continuam a ser necessários. A religião,
por outro lado, lida somente com avaliações do pensamento e da ação humanos:
não lhe é lícito falar de fatos e das relações entre os fatos. Segundo esta
interpretação, os famosos conflitos ocorridos entre religião e ciência no
passado devem ser todos atribuídos a uma apreensão equivocada da situação
descrita.”
Albert Einstein, in Ciência
e Religião (Out Of My Later Years)
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