Depois de citar
ao infinitum a expressão macho-jurubeba, recebi uma nova balaiada de mensagens
pedindo, encarecidamente, que eu tentasse explicar o que seria o tal homem.
Bela
tarefa para cumprir logo ao alvorecer desta segunda sem lei.
A
expressão surgiu no Cariri, onde os fracos não têm vez, mas ganhou força no
seguinte momento:
Ao
me deparar em um banheiro de um moderno restaurante de SP, com dois homens,
aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos
para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha
imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.
Como
bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o
sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos.
Praticamente
extinto, sejamos sinceros. Não há esperança, o velho Francisco,
meu pai, lá no seu rancho nas bordas da chapada do Araripe, deve ser um
dos derradeiros da legião de bravos.
O
macho-jurubeba é um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo,
folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados
nos anos 1990 –quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser
doravante conhecido como metrossexual.
Vasculhemos,
pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste
predador do nosso paleolítico.
Era
sim naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro.
Aqui
encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma
diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um
corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de
colônia…
Vemos
também, no fundo do embornal, uma latinha de Minâncora e outra de banha de
peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.
Em
viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba
naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros.
Alguns
pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua
Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo
o mundo”.
Investigamos
também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de
isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico
Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável.
O
lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.
Ainda
no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças.
Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara –
se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva
te ama mesmo.
Objeto
de investigação e estudo do caboclo pré-metrossexualismo cachetes de Cibazol.
Aí, porém, já saímos um pouco dos
cuidados estéticos e vasculhamos outros armarinhos de miudezas do vasto museu
deste homem que –para o bem ou para o mal - já era.
Xico
Sá, in
xicosa.blogfolha.uol.com.br
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