terça-feira, 16 de outubro de 2012

Um jogo mitológico


Os mitos são criados nos grandes embates. E não foi diferente naquela escaldante tarde de domingo, no confronto entre os times de Cachoeirinha e Gangorra, na decisão de um torneio de futebol.
O primeiro tempo terminou zero a zero, o mesmo placar no segundo tempo. A decisão foi para a prorrogação. E já no primeiro minuto, aconteceu o lance, ainda hoje discutido: se Rosálio da Sucata, o então jovem atacante do escrete da Gangorra, foi derrubado ou jogou-se dentro da grande área. O juiz, incontinenti, marcou pênalti.
E aconteceu o que tinha que acontecer: invasão de campo, ameaças ao digníssimo juiz e à sua ausente genitora, safanões entre os torcedores e os jogadores, etc. E o Sol, com sua gratuita luz natural, dava os primeiros sinais do ocaso.
Depois de trinta minutos de balbúrdia, em que foi necessária a intervenção do delegado, de arma em punho, foi dado a ordem para a cobrança do pênalti, que ficou a cargo de Celsino, um zagueiro brutamontes, com uns delicados pés 44 dentro de umas chuteiras costuradas por Zé Bonga.
Celsino colocou a bola na marca e recuou até a trave de seu campo, fez carreira, meteu o bicudo e só se ouviu o estouro.
No lusco-fusco, as dúvidas surgiram: foi gol? Não foi? A bola rasgou a rede? Qual não foi a surpresa quando todos deram conta que Celsinho, com o bicudo, tinha estourado a bola, que estava cravada acima do joelho dele.
Sem bola e sem iluminação natural, o juiz, invocando o Princípio da Razoabilidade, decretou os dois times campeões, para delírio das duas torcidas e dos jogadores. O problema nessa sábia e inédita decisão foi o estremecimento, durante muitos anos, da relação entre a FIFA e a Federação de Futebol de Pau dos Ferros. Mas isso é outra história.
Elilson José Batista, in Inéditos & Afins

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