Inimitável
Agostinho dos Santos (1959)
Qual
o legado que um artista pode dar ao seu país? A sua obra como referência? O seu
engajamento político como elemento ativo dos problemas sociais sugerindo mudanças
e emprestando seu prestígio para diminuir as diferenças? Qual afinal o seu
objetivo? Muitos afirmam que um artista tem um compromisso firmado com sua
gente, pois ele o representa em sua arte e suas opiniões são levadas em conta
quando se discute os caminhos e descaminhos da pátria. A visibilidade alcançada
pela celebridade conquistada o faz ser um porta-voz dos anseios da sociedade, e
se ele se faz representar com mais destaque num determinado segmento da
população, todos verão nele o espelho de suas angústias e esperanças estando
sempre dispostos a aplaudi-lo quando sua mensagem for ao encontro dos clamores
populares.
Evidentemente
que nem todos se colocam no cenário como protagonistas de tamanhas
responsabilidades e preferem serem reconhecidos única e exclusivamente pelo
legado de sua obra, ou seja, a satisfação que ela causa nas pessoas
transmitindo-lhes paz, reconforto nos momentos difíceis e acima de tudo um
elevado estado de espírito. Uma das expressões artistas de mais densidade em
nossa sociedade é a música, isso porque somos um país essencialmente musical e
a qualidade de nossa canção nos toca muito na alma, elevando os nossos
sentimentos e tornando-nos mais felizes. É claro que estamos falando de uma
música que tenha uma mensagem que nos fala fundo e que nos faça dela sempre
recordar com carinho e paixão. Não precisa ter versos rebuscados e sim uma
mensagem que englobe sentimentos nobres e, é claro, uma melodia agradável que
não fira os nossos ouvidos. Infelizmente hoje em dia nem toda música que
ouvimos nos causa esse sentimento inebriante, embriagador, o que acaba
contribuindo para uma crescente diminuição da nossa sensibilidade estimulando
comportamentos que em nada favorecem a nossa evolução moral e ética.
Contudo,
houve um tempo em que a canção popular se vestia desse compromisso fundamental
de levar aos lares e aos corações das pessoas algo sublime, um fervor
sentimental que se perpetuava, era como uma referência existencial, a
representação de um momento inesquecível ou de uma época evocada sempre como as
mais felizes de nossas vidas, ou seja, a canção popular penetrava tanto dentro
de nós que dela nunca nos afastaríamos, fazia parte da gente, complementando a
nossa existência e a nossa história.
Muitos
intérpretes ficaram imortalizados por proporcionarem momentos tão encantadores,
pois a beleza de suas interpretações e mensagens contidas em suas canções
revelava os nossos sentimentos mais íntimos e ao longo da vida o eco de suas
vozes nos acompanhavam permanentemente. Dentre os cantores brasileiros que
conseguiu reunir todas essas virtudes, destaca-se o fabuloso Agostinho dos
Santos.
Artista
excepcional e dono de um timbre de voz único na música popular brasileira, a
suavidade de seu canto nos proporciona momentos de grande enlevo. Nascido em
São Paulo em 25 de abril de 1932, muito cedo despertou para música e a arte de
interpretar. Aos 23 anos em 1955 já era contratado da Rádio Nacional de São Paulo,
apresentando-se também na Rádio Mayrink Veiga no Rio de Janeiro e gravando seu
primeiro sucesso, a canção Meu benzinho,
versão de My little one, de Frank
Lane, recebendo os troféus Roquete Pinto e Disco de Ouro. A sua ascensão foi
rápida tornando-se num dos mais aplaudidos cantores brasileiros. Seus discos
eram garantia de sucesso e primavam pela qualidade do repertório. Em 1959, já
contratado pela RGE, depois de ter lançado belíssimos discos na Polydor, grava
um LP denominado “O Inimitável Agostinho dos Santos”, incluindo o grande
sucesso A felicidade, de Tom Jobim e
Vinicius de Moraes por ele interpretada na trilha sonora do filme Orfeu do
Carnaval e reunindo, dentre outras, algumas das mais representativas canções da
musica popular brasileira na época como, Hino
ao sol, de Billy Blanco; Eu sei que
vou te amar, de Tom e Vinicius; A
noite de meu bem e Fim de caso,
de Dolores Duran; Não tem solução, de
Dorival Caymmi e Carlos Guinle; Canção do
amor, de Luiz Bonfá e Antônio Maria; As
aparências enganam, de Lupicínio Rodrigues e Canção da volta, de Ismael Neto e Antônio Maria.
Agostinho
dos Santos durante toda sua vida prezou pela qualidade de seu repertorio não se
dando a concessões de cunho comercial, sua obra é um dos mais preciosos legados
de nosso cancioneiro e sua voz é única e nunca foi inigualada, porque ninguém
conseguiu cantar como ele, apenas um certo cantor americano, Nat King Cole,
reverenciado como celebridade mundial numa época em que o nosso astro em nada
lhe devia ao estilo e em talento, sendo, pois, irmãos em arte e exuberância
interpretativa.
A juventude de hoje precisa redescobrir
Agostinho dos Santos. O Brasil não o pode esquecer e a cultura brasileira deve
reverenciá-lo sempre, para que ele não fique apenas como uma doce e radiante
lembrança, cuja estrela neste mundo se apagou no triste desastre aéreo com o
Boeing da Varig no Aeroporto de Orly em Paris no dia 12 de julho de 1973.
Naquele instante ele apenas deixou de gravar e estar fisicamente entre nós, mas
o seu legado, este permanecerá sempre e quem tiver um pouco de sentimento e
sensibilidade nunca deixará de ouvi-lo, pois ele foi e sempre será eterno.
Luiz
Américo Lisboa Junior,
in www.luizamerico.com.br
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