“Quanto mais uma razão cultivada se
consagra ao gozo da vida e da felicidade, tanto mais o homem se afasta do
verdadeiro contentamento; e daí provém que em muitas pessoas, e nomeadamente
nas mais experimentadas no uso da razão, se elas quiserem ter a sinceridade de
o confessar, surja um certo grau de misologia, quer dizer de ódio à razão. E
isto porque, uma vez feito o balanço de todas as vantagens que elas tiram, não
digo já da invenção de todas as artes do luxo vulgar, mas ainda das ciências
(que a elas lhes parecem no fim e ao cabo serem também um luxo do
entendimento), descobrem contudo que mais se sobrecarregaram de fadigas do que
ganharam em felicidade, e que por isso finalmente invejam mais do que desprezam
os homens de condição inferior que estão mais próximos do puro instinto natural
e não permitem à razão grande influência sobre o que fazem ou deixam de fazer.”
Kant, in Fundamentação
da metafísica dos costumes
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