“O mito do eterno retorno afirma, por
negação, que a vida que desaparece de uma vez por todas, que não volta mais, é
semelhante a uma sombra, não tem peso, esta morta por antecipação, e por mais
atroz, mas bela, mais esplêndida que seja, essa atrocidade, essa beleza, esse
esplendor não tem o menor sentido [...] Se cada segundo de nossa vida deve se
repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo
na cruz. Essa ideia é atroz. No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma responsabilidade insustentável. É isso que
levava Nietzsche a dizer que a ideia do eterno retorno é o mais pesado dos
fardos [...] O mais pesado dos fardos nos esmaga, verga-nos, comprime-nos
contra o chão [...] Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está
nossa vida, e mais real e verdadeira ela é. Em compensação, a ausência total de
fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se
distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semirreal, e leva seus movimentos
a ser tão livres como insignificantes...”
Milan
Kundera, in A Insustentável Leveza do Ser
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