Pode ser que Ornar Cabezas tenha esse
nome porque está usando sua segunda cabeça. E talvez por isso tenha chegado até
o fim no áspero caminho da revolução
da Nicarágua; e por isso chegou vivo.
Ornar era criança e estava brincando de
guerra de pedradas, na cidade de Leon. Choviam pedras, entre uma e outra
esquina de uma rua qualquer, quando Ornar viu vir um tremendo pedregulho que
seu inimigo tinha atirado, viu clarinha a trajetória da pedra no ar, e correu:
ele queria correr para o outro lado, escapar, salvar-se, mas não pôde evitar
que sua cabeça se lançasse ao encontro daquele projétil que estava destinado a
ele, e sua cabeça chegou ao lugar exato e no momento exato para ser golpeada e
quebrada pela pedra que caía.
Assim foi que Ornar perdeu aquela sua
cabeça que buscava a perdição. Desde então, usa a outra,
um pouco menos louca.
Eduardo Galeano,
in O livro dos abraços
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