Tom Zé
1972
1972
(...) O que
faz um artista ser excepcional se ele contraria de maneira explícita todo esse
esquema que envolve e padroniza a produção musical brasileira já há alguns
anos? O que o faz notável se ele de repente se mostra como o avesso, do avesso,
do avesso? A resposta está na sua capacidade inventiva, no seu enorme talento,
da sua empatia, da verdade e da força que expressa em sua obra, não deixando
margem para manipulações, sua arte é a sua liberdade sentida e exposta, o
aplauso e o reconhecimento virão portanto naturalmente, sem artificialismos.
Assim é e sempre foi o baiano Tom Zé, não precisa do mercado, este é que
precisa dele, inverte e subverte valores, e assim vai vivendo feliz com sua música
e sua legião planetária de fãs.
Esse
personagem de nossa história musical recente passou momentos de difícil
assimilação e compreensão por parte de segmentos da crítica em função de não se
deixar levar pelo sucesso fácil, manteve-se íntegro, e o tempo só veio
reafirmar que ele estava certo em não se dobrar, pois o mundo iria lhe aplaudir
por não transigir em suas convicções reconhecendo nele o vulcão criativo que
espalhava larvas de admiração e respeito por onde quer que passasse.
Ao
longo de mais de quarenta anos de carreira produziu trabalhos memoráveis, e
dentre eles destaco o LP lançado em 1972 pela Continental, não desmerecendo,
contudo, todos os seus outros trabalhos anteriores ou posteriores. O Disco é um
apanhado de canções em que seu estilo inconfundível esta presente, seja nas
melodias bem trabalhadas ou nas letras revelando seu lado satírico e
lírico/sentimental.
Tom Zé
talvez seja um dos músicos brasileiros cuja obra é de um personalismo
impressionante, ou seja, possui um estilo único, não adianta imitá-lo ou
assemelhar-se a ele, Tom Zé é Tom Zé e pronto! Não dá para cloná-lo. Isso fica
evidente neste disco quando ouvimos algumas de suas canções como A babá, quase que obrigatória em suas
apresentações, A briga do Edifício Itália
com o Hilton Hotel, uma sátira paulistana que talvez nem os paulistas a
fizessem tão bem, Menina amanhã de manhã,
O abacaxi de Irará, O anfitrião, Frevo, Happy end, o
clássico Se o caso é chorar, uma das
suas mais belas criações poético/musicais e Sr.
cidadão cuja introdução é o poema concreto Cidade, de Augusto de Campos,
declamado pelo autor. Se formos fazer uma coletânea das suas melhores
produções, este disco certamente estaria praticamente inteiro nela.
Ouvir este LP de Tom Zé é penetrar em sua alma, compreender
seu universo e admirar todo seu enorme talento, que apesar de ter ficado
represado por algum tempo, hoje inunda de criatividade a música popular
brasileira tão carente ultimamente de renovação e ousadia.
Luiz Américo
Lisboa Junior, in
www.luizamerico.com.br
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