com Zé Dantas
1959
Ao
fazermos uma análise de alguns períodos históricos da vida brasileira
verificaremos que a década de trinta foi um marco divisor, não só por causa da
Revolução liderada por Getúlio Vargas que lhe entronizou no poder como também
pelas conseqüências políticas e sociais dessa ruptura que findou a República
Velha. O Brasil partia então para um desenvolvimento que fincaria as bases de
um processo de crescimento que teria seu ponto culminante com as 30 metas mais
a construção de Brasília efetuadas por Juscelino Kubistschek nos anos cinquenta.
Os anos
trinta também seria o momento em que no campo do entretenimento e das
comunicações o país daria um grande salto, pois foi a época da arrancada da
indústria do radio e como consequência a formação de uma mão de obra que daria
suporte a introdução da TV em 1950. No campo especifico da música popular
viveríamos uma época de fartura de grandes compositores e intérpretes, como
Orlando Silva, Noel Rosa, Lamartine Babo, Ary Barroso, Carmen Miranda, Mário
Reis, Carlos Galhardo, Assis Valente e muitos outros. A pavimentação para a
consolidação desse gigantesco trabalho artístico já estava pronta e o país iria
adentrar a década seguinte, os anos quarenta, com uma perspectiva alentadora
dando oportunidade e promovendo o surgimento de novos talentos.
Com o
ambiente musical já estabelecido e uma rede de rádios dando o suporte
necessário para a divulgação e manutenção desses artistas, principalmente
através da Radio Nacional que àquela época atingia praticamente todo o país, ir
ao Rio de Janeiro para conquistar um lugar nesse disputado mercado era a
alternativa para todo artista que queria se dar bem na carreira. Foi
vislumbrando essa possibilidade e as oportunidades que poderiam surgir que o
compositor e sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga resolveu arriscar e com todo
seu talento não demorou muito para ser reconhecido e aclamado como um dos maias
festejados artistas brasileiros a partir da segunda metade dos anos quarenta e
da década seguinte.
Fazendo
enorme sucesso no radio e vendendo muitos discos Luiz Gonzaga soube se acercar
de grandes parceiros para colocarem poesia em suas canções, inicialmente com
Humberto Teixeira e depois com Jose de Souza Dantas ou como é repertório que
consolidava-se e consagrava-se a cada novo lançamento. Foi justamente mais
conhecido, Zé Dantas. Com este último continuou fazendo clássicos e compôs um
no intuito de reunir esse material disperso em discos 78 rotações que a RCA
Victor, gravadora oficial do Rei do Baião, tomou a iniciativa de produzir e
gravar um LP em 1959 com os maiores sucessos da dupla de compositores, surgindo
assim o disco Luiz Gonzaga canta seus sucessos com Zé Dantas, com os dois na
capa e um texto autoexplicativo das canções escrito por Zé Dantas na contracapa.
São
doze canções que se incluem como clássicos da música popular brasileira
retratando de modo fidedigno o homem, o folclore e os costumes do Nordeste. No
baião Sabiá, que abre o disco, uma homenagem a uma das aves de mais belo canto
de nossa fauna; o Xote das meninas uma das mais populares canções do LP retrata
a transformação da menina em mulher usando como símbolo de referencia a flor do
mandacaru que quando amadurece na seca é sinal de chuva e colheita farta no
sertão; A volta da asa branca é uma toada que da continuidade ao tema do famoso
baião, Asa branca, composto por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira; A dança da
moda, retrata com muita propriedade o sucesso do baião no Rio de Janeiro e
consequentemente em todo o país; Riacho do Navio, homenageia um dos mais
importantes afluentes do rio São Francisco, na zona do Pajeú em Pernambuco,
onde em suas margens floresce uma flora e uma fauna muito rica e exuberante;
Vozes da seca, é um preito de clamor as autoridades para que se sensibilizem
com o drama dos flagelados nordestinos, é um dos maiores clássicos da MPB;
Paulo Afonso, é uma homenagem aos homens que ajudaram a construção da usina
hidrelétrica promovendo o progresso e o desenvolvimento do Nordeste, Algodão,
foi composta a pedido do então Ministro da Agricultura João Cleofas, para
estimular o plantio do chamado "Ouro branco" no sertão.
Retratando
ainda situações e costumes sertanejos temos sucessos como, Cintura fina, Forró
de Mané Vito, A letra i e Vem morena, fechando um repertório de um disco que só
traz músicas que ficaram imortalizadas como verdadeiros sinônimos da saga
cancioneira nordestina, e o melhor de tudo isso, magistralmente interpretadas
por Luiz Gonzaga, uma unanimidade nacional. São trabalhos como esse que nos
conduzem a certeza cada vez maior que a grandeza de nosso país esta fincada na
sua pluralidade cultural e no talento inequívoco de seus
criadores/realizadores.
Luiz Américo Lisboa Junior, in www.luizamerico.com.br
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