Cândido Portinari, Menino de Brodowski, 1946 |
Foi assim: de
manhãzinha eu passeava dentro do pomar de D. Mariquinha. Peguei um maracujá,
uma romã, ia pegando uns araçás quando senti aquela água na cara, jogada por D.
Mariquinha. Xinguei assim: ô velha fedida, avarenta. Ia enxugar a cara. Um
vento bateu. Fiquei parado no vento. Olhei tudo querendo ser sempre menino,
querendo sempre ter um maracujá, uma romã, a vontade de alguns araçás, e água
na cara e vento. Grande que eu era de pé, e alguma coisa me estufou o peito,
alguma coisa me encheu a boca e eu gritei. OOOOOOOOIAAAAAAAAI e outra vez bem
comprido OOOOOOOOOOOOOOOOOIAAAAAAAAAAAAAAAAAI. E a mãe veio correndo, os irmãos
também, a velha muito assustada, os cachorros também, as galinhas pretas
pequenininhas, a mula veio que veio depressa e todos me rodearam e a mãe falou
sem respirar: oquefoimeninooquefoi? E aí eu disse sem querer dizer: mãe, o
mundo me dói, me dói pra valer.
Hilda Hilst, in Fluxo-floema (no Imaginário Poético)
Nenhum comentário:
Postar um comentário