“Um
espírito corajoso e grande é reconhecido principalmente devido a duas
características: uma consiste no desprezo pelas coisas exteriores, na convicção
de que o homem, independentemente do que é belo e conveniente, não deve
admirar, decidir ou escolher coisa alguma nem deixar-se abater por homem algum,
por qualquer questão espiritual ou simplesmente pela má fortuna. A outra
consiste no fato - especialmente quando o espírito é disciplinado na maneira
acima referida - de se dever realizar feitos, não só grandes e seguramente,
bastante úteis, mas ainda em grande número, árduos e cheios de trabalhos e
perigos, tanto para a vida como para as muitas coisas que à vida interessam.
Todo
o esplendor, toda a dimensão (devo acrescentar ainda a utilidade), pertencem à
segunda destas duas características; porém, a causa e o princípio eficiente,
que os tornam homens grandes,
à primeira.
Naquela
está, com efeito, aquilo que torna os espíritos excelentes e desdenhosos das
coisas humanas. Na verdade, pode isto ser reconhecido por duas condições: em
primeiro lugar, se estimares alguma coisa como sendo boa unicamente porque é
honesta, em segundo lugar, se te encontrares livre de toda a perturbação de
espírito. Consequentemente, o fato de se ter em pouca conta aquelas coisas
humanas e de se desprezar, com uma atitude de espírito firme e sólida, essas
mesmas coisas, que a muitos parecem ilustres e exímias, deve constituir
apanágio de uma alma grande e corajosa. Suportar aquilo que parece acerbo, que
de muitas e variadas maneiras aflige a vida e a sorte dos homens (de modo por
assim dizer a não renunciares
à ordem natural e à dignidade do sábio), é próprio de um espírito robusto e de
grande constância”.
Marcus Cícero, in Dos Deveres
Nenhum comentário:
Postar um comentário