Emil Schumacher, Sodom, 1957, óleo sobre tela, 132 x 170,5 cm |
“A
beleza é uma coisa terrível e horrível! Terrível porque indefinível, e
impossível de definir porque Deus só nos propôs enigmas. Aí os extremos se
tocam, aí todas as contradições convivem. Eu, meu irmão, sou muito ignorante,
mas tenho pensado muito nisso. Existe um número formidável de mistérios! Um
número excessivo de enigmas oprime o homem na Terra. Decifra-os como és capaz e
sai enxuto da chuva. A beleza! Não posso, ademais, suportar que algum homem,
até de coração superior e de inteligência elevada, comece pelo ideal de Madona
mas termine no ideal de Sodoma. Ainda mais terrível é aquele que, já tendo de
Sodoma na alma, não nega o ideal de Madona, e seu coração arde de fato por ele,
arde de fato como nos puros anos juvenis. Não, o homem é vasto, vasto até
demais; eu o faria mais estreito. Até o diabo sabe o que é isso, veja só! O que
à mente parece desonra é tudo beleza para o coração. A beleza estará em Sodoma?
Podes crer que é em Sodoma que ela está para a imensa maioria dos homens –
conhecias ou não esse segredo? É horrível que a beleza seja uma coisa não só
terrível, mas também misteriosa. Aí lutam o diabo e Deus, e o campo de batalha
é o coração dos homens. Aliás, é a dor que ensina a gemer. Bem, agora vamos aos
fatos”.
Fiodor
Dostoiévski, in Os Irmãos Karamázovi
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