domingo, 15 de maio de 2011

               “A modernidade não é antropocêntrica. Firme na sua crítica a Aristóteles, Descartes rejeita a explicação pelas causas finais como afirmava ingenuamente Aristóteles. O mundo que a ciência moderna pós-Galileu descobre é demasiado vasto (o universo é infinito), demasiado diverso e, para alguns, demasiado antigo (a Terra existiu muito antes de nós e sem dúvida sobreviverá depois de nós) para que o homem possa ser o seu centro. O finalismo antropocêntrico já não é possível: é rejeitado por aqueles que, como Espinosa, prosseguem a crítica cartesiana do finalismo e desmontam os mecanismos da ilusão que leva os homens a considerar todas as coisas existentes na natureza como meios para seu uso. Na economia da natureza de Lineu, o homem ocupa um lugar nas cadeias de interdependência, mas esse lugar não é central, nem privilegiado. Nem tudo converge para o homem: a descentralização moderna é tal que permite imaginar uma natureza da qual o homem está ausente. Tanto mais que a dualidade do sujeito e do objeto coloca o observador fora da situação observada. Não faz parte dos processos que observa, os quais se desenrolam sem ele”.
Catherine Larrère e Raphaël Larrère

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