domingo, 22 de maio de 2011

Desolação

Venho do abrigo
Da desolação,
De casa sem teto,
Do sítio sem chão.

Nasci numa terra
Onde não tem água.
Tem bicho morrendo,
Tem homens com mágoa.

Na minha varanda
Secas folhas soltas,
Espinhos nos pés
Com dor que treslouca.

Quando a noite chega,
O corpo só treme;
Um dia de fome,
A mente só geme.

O sonho de estio
Só faz ressecar
Os lábios da gente,
A terra rachar.

Alguém escreveu
Que o homem matuto
É antes de tudo
Um forte, um bruto.

Um ano inteiro
A chuva a esperar,
Destoca o roçadop
Pra terra lavrar.

As águas que chegam
Não dão pra molhar
A boca tão seca
De tanto rezar.

A rotina da vida
É só esperança.
O inverno que passa
É a triste lembrança.

Voltando ao abrigo
Da desolação,
Do piso já úmido
Das lágrimas no chão.

Rogério Dias, poeta e artista plástico mossoroense.



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