domingo, 3 de abril de 2011

  Me enganei com minha noiva*
  Poema: Luiz Campos
  Música: Genildo Costa


  Quando sôrtero eu vivia
  Era o maior aperrei
  Divido ser muito fei
  As moças num mi quiria
  Quando prum forró eu ia
  Cum quarqué colega meu
  Eles confiava neu
  Ia beber e brincar
  No fim da festaia arengá
  Quem ia preso era eu.


  E pra arranjá namoro
  Eu toda vida fui mole
  Eu cantei samba, puxei fole
  Usei um cabelo louro
  A boca cheia de ouro
  Chega briiava de dia
  Quando prum forró eu ia
  Cherava que nem uma rosa
  Mas se eu caçava umas prosa
  As moças num mi quiria.


  Aí eu dizia: é catimbó
  Que alguém botou mas não sai
  Que mamãe casou com papai
  Vovô casou com vovó
  Inté meu irmão Chicó
  Que é muito mais fei do que eu
  Namorou, casou, viveu
  Com duas muié inté
  Só eu não acho muié
  Que queira se esfregá neu.


  Um dia Deus descuidou-se
  E o Satanás se esqueceu
  Que Vicença oiou pra eu
  Com um olhar de bico-doce
  Nossos oios se amisturou-se
  Cuma feijão com arroz
  Se abufelemos nós dois
  Num amor tão violento
  Que marquemo o casamento
  Pra quatro dias dispois.


  No dia de se amarrar
  Se arrumou eu e ela
  Dei de garra da mão dela
  Fui pra igreja casá
  Cheguei nos pés do altá
  Recebi a santa bença
  Jurei num ter disavença
  Entre eu e minha esposa
  O padre disse umas coisa
  E eu fui viver com Vicença!


  Cheguei em casa mais ela
  Fui logo me agazaiando
  Que mermo que eu ia pensando
  Que ia dormi na costela
  Vicença fez uma novela
  Por dentro da camarinha
  Quebrou uns trocim que eu tinha
  Mi amiaçou na bala
  Ela foi dormir na sala
  E eu dormir na cozinha.


  De Deus eu perdi a crença
  De nome chamei uns trinta
  Botei uma faca na cinta
  E fui conversá com Vicença
  Vicença deu a doença
  Quando eu falei em amor
  Aí me perguntou:
  Sê pensa que eu sou o quê?
  Eu me casei com você
  Pra le fazê um favor.


  Bati cum ela no chão
  Puxei a lapa de faca
  Cortei os cós da casaca
  E o elastro do calção
  Vicença tinha razão
  De não querer bem a eu
  Num era cum nojo deu
  Nem porque não fosse séra
  Sabe Vicença quem era?
  Era macho que nem eu.


  Eu muito me arrependi
  Porque me casei com ela
  Falei logo cum pai dela
  E de manhã devolvi
  Muito desgosto eu senti
  Que quase morri inté
  Home em traje de muié
  Tem muito de mundo afora
  Só caso cum outra agora
  Logo sabendo quem é.


*Do CD Cores e Caminhos, de Genildo Costa.

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