sexta-feira, 31 de agosto de 2012
A respeito das parábolas
Muitas
pessoas se queixam de que as palavras dos doutos geralmente não passam de
parábolas, não tendo a menor utilidade na vida quotidiana, que é a única que
temos. Quando um sábio nos diz “Passe até lá”, ele não nos quer dizer que
devamos ir até determinado lugar, o que poderíamos fazer se o esforço valesse a
pena; “lá”, para ele, significa um além fabuloso, um sítio que desconhecemos e
que ele próprio não pode indicar mais precisamente, estando por isso mesmo
impossibilitado de nos dar a mínima ajuda.
Todas
as parábolas, no fundo, servem apenas para confirmar que o incompreensível é de
fato incompreensível, coisa que já sabíamos desde sempre. Mas as preocupações
com que diariamente nos defrontamos constituem algo bem diferente.
A
propósito disso, um homem certa vez disse: “Por que tanta relutância? Se vos
dispusésseis a seguir as parábolas, vós mesmos vos transformaríeis nelas e, com
isso, resolveríeis todos os vossos problemas quotidianos.”
Um
circundante ouviu-o dizer tal coisa e logo acrescentou: “Aposto que isso também
é uma parábola.”
O
primeiro respondeu-lhe: “Pois já ganhou a aposta.”
O
segundo prosseguiu: “Mas, infelizmente, apenas em parábola.”
O primeiro corrigiu: “Não, na realidade! Se fosse em parábola,
tê-la-ia perdido.”
Franz Kafka,
in Contos, fábulas e aforismos
O Jardim Secreto da Alma
“Se protegerdes com demasiada devoção o jardim
secreto da tua alma, ele pode facilmente começar a florescer de um modo
excessivamente luxuriante, transbordar para além do espaço que lhe estava
reservado e tomar mesmo pouco a pouco posse da tua alma de domínios que não
estavam destinados a permanecer secretos. E é possível que toda a tua alma
acabe por se tornar um jardim bem fechado, e que no meio de todas as suas
flores e dos seus perfumes ela sucumba à sua solidão.”
Arthur
Schnitzler, in Relações e Solidão
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Pai da Paraolimpíada é médico que fugiu do nazismo e usou esporte para mudar vidas
Ludwig Guttmann era um médico judeu que escapou da
Alemanha nazista. Ele ajudou a fundar e comandou a divisão de tratamento de
lesões de coluna no hospital de Stoke Mandeville, na Grã-Bretanha.
Guttmann
promoveria as primeiras competições públicas para pessoas com necessidades
especiais na abertura dos Jogos de Londres, em 1948.
Nos
anos 60, estas práticas incorporadas aos Jogos Olímpicos. Nasciam, assim, as
Paraolimpíadas.
Os
Jogos de 2012 foram inaugurados nesta quarta-feira, no Estádio Olímpico de
Londres, e as competições paraolímpicas começaram nesta quinta.
Fonte: http://www.bbc.co.uk
Revistas Formas - Arquitetura Potiguar nº 140
Revista Formas - Arquitetura Potiguar: informação
sobre arquitetura, design, artes, cultura, paisagismo e ambientação.
Soneto 12, de William Shakespeare
Quando conto as horas que passam no
relógio,
E a noite medonha vem naufragar o dia;
Quando vejo a violeta esmaecida,
E minguar seu viço pelo tempo
embranquecida;
Quando vejo a alta copa de folhagens
despida,
Que protegiam o rebanho do calor com
sua sombra,
E a relva do verão atada em feixes
Ser carregada em fardos em viagem;
Então, questiono tua beleza,
Que deve fenecer com o vagar dos anos,
Como a doçura e a beleza se abandonam,
E morrem tão rápido enquanto outras
crescem;
Nada detém a foice do Tempo,
A não ser os filhos, para perpetuá-lo
após tua partida.
Do Amor à Patria
São doces
os caminhos que levam de volta à pátria. Não à pátria amada de verdes mares
bravios, a mirar em berço esplêndido o esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a uma
outra mais íntima, pacífica e habitual — uma cuja terra se comeu em criança,
uma onde se foi menino ansioso por crescer, uma onde se cresceu em sofrimentos
e esperanças plantando canções, amores e filhos ao sabor das estações.
Sim, são
doces as rotas que reconduzem o homem a sua pátria, e tão mais doces quanto
mais ele teve, viu e conheceu outras pátrias de outros homens. Assim eu,
ausente pela segunda vez de uma ausência de muitos anos quando, dentro da noite
a bordo, os dedos a revirar o dial do ondas curtas, aguardava o primeiro
balbucio de minha pátria como um pai à espera da primeira palavra do seu filho.
O coração batia-me como batera um dia, à poesia sonhada, ou como uma outra vez,
diante de uns olhos de mulher.
— O
senhor tem certeza de que isso é mesmo um ondas curtas?
O
camareiro norueguês, grande e tranquilo, limitou-se a sorrir misteriosamente.
Depois, humano, inclinou-se sobre o aparelho, o ouvido atento, e pôs-se a
tentar por sua vez. As ondas sonoras iam e vinham verrumando a minha angústia.
Onde
estava ela, a minha pátria que não vinha falar comigo ali dentro do mar escuro?
E de
repente foi uma voz que mal se distinguia, balbuciando bolhas de éter, mas
pensei no meio delas distinguir um nome: o nome de Iracema. Não tinha certeza,
mas pareceu- me ouvir o nome de Iracema entre os estertores espásmicos do
aparelho receptor.
Deus do
Céu! Seria mesmo o nome de Iracema?
Era sim,
porque logo depois chegou a afirmar-se, mas quase imperceptível, como se
pronunciado por um gnomo montado em minha orelha. Era o nome de Iracema, da
Rádio Iracema, de Fortaleza, a emissora dos lábios de mel, que sai mar afora,
enfrentando os espaços oceânicos varridos de vento para trazer a um homem
saudoso o primeiro gosto de sua pátria.
Adorável
prefixo noturno, nunca te esquecerei! Foste mais uma vez essa coisa primeira
tão única como o primeiro amigo, a primeira namorada, o primeiro poema. E a ti
eu direi: é possível que o padre Vieira esteja certo ao dizer que a ausência é,
depois da morte, a maior causa da morte do amor. Mas não do amor à terra onde
se cresceu e se plantou raízes, à terra a cuja imagem e semelhança se foi feito
e onde um dia, num pequeno lote, se espera poder
nunca
mais esperar.
Vinicius de Moraes, agosto de 1953, in Para uma menina com uma flor
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Desenhos Hiperrealistas com caneta Bic
Com uma boa dose de paciência, outra de
persistência e mais um pouco de amor a arte, nasceu a fascinante obra
Hiper-realista de Samuel Silva.
O artista Português mostra ao mundo que uma Bic não
é somente uma simples esferográfica feita para anotações, com aquela
desconfortável ponta grossa, com prazo de validade curto, e com uma
possibilidade criativa pequena. Ele apresenta sua incrível coleção de desenhos
com enorme qualidade técnica feitos somente com caneta esferográfica de
variadas cores.
A menina ruiva: Inspirado na fotografia da fotógrafa
russa Kristina Taraina. Demorou 30 horas para ser finalizado.
Samuel Silva é um advogado Português, de 29 anos, que não se denomina artista de maneira nenhuma e não sente-se muito á vontade com o título. Diz desenhar somente nas horas vagas, como um Hobby.
Desenha desde os seus dois anos de idade e optou desde cedo por compor suas obras hiper-realistas com canetas esferográficas diversas, desenvolvendo assim seu próprio estilo de desenho. Dedica até 50 horas para finalizar cada obra, mas garante ser amador.
Expôs seu trabalho pela primeira vez no site DeviantART,
alcançando uma enorme popularidade. Sua página contém centenas de comentários
elogiosos, o que chamou atenção de editores do jornal mailonline que dedicaram
uma página inteira do jornal falando positivamente sobre o artista.
Samuel
utiliza uma técnica de pontilhado em cruz com sobreposição de camadas para
conferir a ilusão de cores e profundidade ao desenho, mas diz que essa
modalidade não é a única que se aventura, é apenas mais uma que está tentando
dominar, pois já tem prática com giz, lápis, lápis de cor, pastel, óleo e
acrílico.
Tem
uma enorme admiração por felinos e disse que um de seus grandes objetivos era
conseguir desenhar um perfeitamente com a esferográfica. Acho que a foto a
seguir nos diz bem se ele conseguiu né?
Sobre
o ato de desenhar o artista diz:
"A
única coisa que me faz continuar é o meu amor pelo que faço e a ambição de ir
mais longe e mais longe. Estou feliz por estar aqui, quero aprender muito, ver
um monte, e desfrutar ao máximo o que outros colegas artistas tem para
compartilhar.”
Samuel é mais um artista a nos mostrar que a cada
dia a arte torna-se mais livre, como reflexo da vida humana. Novas formas de
pintar surgem a todo momento; novos estilos; novas visões... Mas a arte
tradicional continua a se reinventar e a surpreender o próprio tempo, que
grato, não a perece, só a faz ficar mais viva dentro de sua conhecida
realidade.
Obras do artista aqui.
Por Rafaela
Werdan, in longe.obviousmag.org
Teologia - 3
Errata: onde o Antigo Testamento diz o que diz, deve dizer aquilo
que provavelmente seu principal protagonista
me confessou:
Pena que Adão fosse tão burro. Pena que
Eva fosse tão surda. E pena que eu não soube me fazer entender.
Adão e Eva eram os primeiros seres
humanos que nasciam da minha mão, e reconheço que tinham certos defeitos de
estrutura, construção e acabamento. Eles não estavam preparados para escutar,
nem para pensar. E eu... bem, eu talvez não estivesse preparado para falar.
Antes de Adão e Eva, nunca tinha falado com ninguém. Eu tinha pronunciado belas
frases, como "Faça-se a luz", mas sempre na solidão. E foi assim que,
naquela tarde, quando encontrei Adão e Eva na hora da brisa, não fui muito
eloquente. Não tinha prática.
A primeira coisa que senti foi assombro.
Eles acabavam de roubar a fruta da arvore proibida, no centro do Paraíso. Adão
tinha posto cara de general que acaba de entregar a espada e Eva olhava para o
chão, como se contasse formigas. Mas os dois estavam incrivelmente jovens e
belos e radiantes. Me surpreenderam. Eu os tinha feito; mas não sabia que o
barro podia ser tão luminoso.
Depois, reconheço, senti inveja. Como
ninguém pode me dar ordens, ignoro a dignidade da desobediência. Tampouco posso
conhecer a ousadia do amor, que exige dois. Em homenagem ao principio de
autoridade, contive a vontade de cumprimentá-los por terem-se feito subitamente
sábios em paixões humanas.
Então, vieram os equívocos. Eles
entenderam queda onde falei de voo. Acharam que um pecado merece castigo se for
original. Eu disse que quem desama peca: entenderam que quem ama peca. Onde
anunciei pradaria em festa, entenderam vale de lágrimas. Eu disse que a dor era
o sal que dava gosto a aventura humana: entenderam que eu os estava condenando,
ao outorgar-lhes a gloria de serem mortais e loucos. Entenderam tudo ao
contrário. E acreditaram.
Ultimamente ando com problemas de
insônia. Ha alguns milênios custo a dormir. E gosto de dormir, gosto muito,
porque quando durmo, sonho. Então me transformo em amante ou amanta, me queimo
no fogo fugaz dos amores de passagem, sou palhaço, pescador de alto mar ou
cigana adivinhadora da sorte; da árvore proibida devoro até as folhas e bebo e
danço até rodar pelo chão...
Quando acordo, estou sozinho. Não tenho
com quem brincar, porque os anjos me levam tão a sério, nem tenho a quem
desejar. Estou condenado a me desejar. De estrela em estrela ando vagando,
aborrecendo-me no universo vazio. Sinto-me muito cansado, me sinto muito
sozinho. Eu estou sozinho, eu sou sozinho, sozinho pelo resto da eternidade.
Eduardo Galeano, in O
livro dos abraços
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Arte de Rua, por Bansky
"Algumas
pessoas se tornam policiais porque eles querem fazer do mundo um lugar melhor. Algumas pessoas se tornam vândalos
porque eles querem fazer do mundo um lugar de melhor aparência".
Banksy
Fonte: www.Streetartutopia.com
Sermão contra a estupidez e o egoísmo
"A
reprovação do egoísmo, que se pregou com tamanha convicção casmurra, prejudicou
certamente, no conjunto, esse sentimento (em benefício, hei-de repeti-lo
milhares e milhares de vezes, dos instintos gregários do homem), e prejudicou-o,
nomeadamente no fato de o ter despojado da sua boa consciência e de lhe ter
ordenado a procurar em si próprio a verdadeira fonte de todos os males. ‘O teu
egoísmo é a maldição da tua vida’, eis o que se pregou durante milênios: esta
crença, como eu ia dizendo, fez mal ao egoísmo; tirou-lhe muito espírito,
serenidade, engenhosidade e beleza; bestializou-o, tornou-o feio, envenenado.
Os
filósofos antigos indicavam, ao contrário, uma fonte completamente diferente
para o mal; os pensadores não cessaram de pregar desde Sócrates: ‘É a vossa
irreflexão, são a vossa estupidez, o vosso hábito de vegetar obedecendo à regra
e de vos subordinar ao juízo do próximo, que vos impedem tão amiudadamente de
serdes felizes; somos nós, pensadores, que o somos mais, porque pensamos’. Não
nos perguntemos aqui se este sermão contra a estupidez tem mais fundamentos do
que o sermão contra o egoísmo; o que é certo é que despojou a estupidez da sua
boa consciência: estes filósofos foram prejudiciais à estupidez!”
Friedrich Nietzsche, in A
Gaia Ciência
Uma fabulazinha
“Ai
de mim!” exclamou o camundongo, “o mundo está ficando cada vez menor. De início
era tão grande, que eu me apavorava. Vivia correndo para cá e para lá, e só me
tranquilizava quando via, por fim, paredes bem distantes à esquerda e à direita.
Mas o espaço entre essas paredes estreitou-se tão rapidamente que já me
encontro na última câmara, e vejo ali no canto a ratoeira onde de certo
esbarrarei.”
“Ora, basta-lhe escolher outro caminho”,
disse o gato antes de engoli-lo.
Franz
Kafka, in Contos, fábulas e aforismos
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Não dá mais pra segurar (Explode Coração), com Junio Barreto
Chega de
tentar dissimular
E disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar
E eu não quero mais calar
E disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar
E eu não quero mais calar
Já que o
brilho desse olhar
Foi traidor e entregou
O que você tentou conter
O que você não quis desabafar
Foi traidor e entregou
O que você tentou conter
O que você não quis desabafar
Chega de temer, chorar
Sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar
Sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar
E tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir
E que essa vida entre assim
Eu quero mais é me abrir
E que essa vida entre assim
Como se fosse o sol
Desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor dessa manhã
Desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor dessa manhã
Nascendo, rompendo, tomando
Rasgando meu corpo e, então, eu
Chorando, sorrindo, sofrendo,
Rasgando meu corpo e, então, eu
Chorando, sorrindo, sofrendo,
Adorando, gritando
Feito louco, alucinado e criança
Eu quero o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar
Explode coração!
Eu quero o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar
Explode coração!
Composição: Gonzaguinha
A monotonia da existência
"Sábio é quem
monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem um privilégio de
maravilha. O caçador de leões não tem aventura para além do terceiro leão. Para
o meu cozinheiro monótono uma cena de bofetadas na rua tem sempre qualquer coisa
de apocalipse modesto. Quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito no carro até
Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte. O viajante que
percorreu toda a terra não encontra de cinco mil milhas em diante novidade,
porque encontra só coisas novas; outra vez a novidade, a velhice do eterno
novo, mas o conceito abstrato de novidade ficou no mar com a segunda
delas."
Fernando
Pessoa, in O Livro do Desassossego
Fidelidade ao eleitor
Caro
leitor, estamos às vésperas de mais uma campanha eleitoral, e escrevo como
forma de mostrar que, muitos de nós, não acordamos para esse compromisso tão
sério e importante que nos faz exercer o direito de cidadania, que é o voto.
Falo em acordar no sentido de parar para observar quantos compromissos foram
prestados, quantas promessas foram invocadas; e aí pergunto: será que você,
eleitor, está cobrando desses políticos? Será que você não se sente ludibriado
com tamanho descaso e falta de compromisso para com a sociedade? Será que
ficarmos sentados, vendo nossos representantes fazerem de nós o que querem, não
causa sensação de desconforto? Vejamos aonde eu quero chegar...
Lembra-se
daquele vereador que pediu o meu, o seu voto para nos representar na Câmara
Municipal? Será que ele cumpriu o que prometeu? Até onde foi o compromisso dele
com a sociedade? Será que ele continua lá, firme e forte, lutando pela
sociedade ou está exercendo uma atividade paralela, que ocupa tanto seu tempo,
que comparecer à Câmara apenas para cumprir tabela? E ainda, aquele deputado e
senador que pediu nosso voto para representar-nos na Alta Câmara, em Brasília,
será que ele abandona o compromisso de nos representar até o final do mandato
para concorrer a novas eleições na expectativa de mais e mais poder? Acredito,
leitor, que quando votamos esperamos que o candidato nos represente até o fim
do mandato (quatro anos), mas isso não acontece e eles abandonam seus cargos e
se aventuram a nova campanha política. Já é uma rotina.
Políticos
dessa natureza não têm compromisso com o seu povo, quebram esse compromisso que
assumiu, e ainda por cima o desrespeito com essa atitude.
É
preciso que a sociedade combata esse tipo de ação, cobrando mais coerência e
fidelidade ao eleitor. Vamos espera-los nessa nova eleição que se avizinha, e
quando pedirem nosso voto novamente, lembrar que já votamos nele para o mandato
que exerce hoje e que o mesmo não deu nenhum valor ao voto recebido, pois já
quer se aventurar a um novo mandato, sem ter ao menos concluído o atual.
Será
que nunca se passa pela cabeça deles que nós depositamos a esperança de dias
melhores em suas mãos? Será que a ânsia pelo poder é tão grande que eles
esquecem o verdadeiro papel do político? Acredito que o que está faltando é
vontade política de legislar em favor do povo. Está mais na hora deles
abandonarem os interesses pessoais e colocarem em meta o interesse público.
Portanto,
eleitor e também leitor, vamos questionar, pensar, cobrar, vamos fazer mais a
nossa parte: saibam que nós passamos uma procuração em branco aos políticos e
lembrem-se de que os nossos representantes têm a nossa cara, pois a
Constituição é clara: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos”. Somos nós quem os colocamos.
Vamos sempre ter em mente os discursos
dos políticos. Lembrem-se que eles pedem fidelidade ao candidato e ao seu
partido, e por que eles não têm fidelidade a nós eleitores? Façamos essa
cobrança, leitor: agindo assim, estaremos contribuindo para um sistema mais justo
e estaremos usando o nosso direito.
Aldecir
Souza de Medeiros,
funcionário dos Correios de Mossoró
domingo, 26 de agosto de 2012
Neil Armstrong: o primeiro a pisar na Lua
"Este é um pequeno passo para o homem, um salto
gigantesco para a humanidade."
Pichação
Imagem: Google
No claro,
Pablo pintava
parede.
No escuro,
Pedro pichava
muro.
Um dia, Pablo
olhou
Pedro de frente:
“Ei, moleque!
Vá sujar sua
parede!”
“Não precisa se
zangar”
- Disse Pedro
magoado –
“Seu muro ficou
mais bonito
Depois que foi
pichado!”
E continuou:
“Proponho uma
troca:
Eu pinto e você
picha!
“Eu não!” –
disse Pablo
Morrendo de
vontade
“Sou um cara de
respeito
Não tenho mais
idade!”
“Deixa de
besteira!
É só usar a
imaginação!
Um muro tão
branquinho
Pedindo
pichação!”
“Piche algum
recado
Que queira dar
pra alguém”
- E dizendo isso
–
Lhe passou a
latinha de spray.
Pablo pensou:
“Péra aí...
Deixa eu ver...
Já sei!”
E Pablo pichou o
muro:
PATRÍCIA:
TE AMO NO CLARO
E PICHO TEU NOME
NO ESCUR
Não terminou o
“O”
Porque dois
guardas surgiram.
Pablo e Pedro
correram tão rápido
Que
até da poesia fugiram!
Anna Flora
Acerca da dificuldade
“Muita coisa que, em certas fases do homem, lhe dificulta a vida serve,
numa fase superior, para lha facilitar, porque esses homens aprenderam a
conhecer maiores complicações da vida. O inverso sucede igualmente: é assim,
por exemplo, que a religião tem um duplo rosto, conforme uma pessoa ergue para
ela o olhar, para que ela o livre da sua cruz e das suas penas, ou baixa para
ela o olhar como para as cadeias que lhe foram postas, a fim de que não suba
pelos ares demasiado alto”.
Friedrich Nietzsche, in Humano, Demasiado Humano
sábado, 25 de agosto de 2012
Serei, se quiser
"Agir,
eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que
for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de
palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem
ali?"
Fernando Pessoa, in O
Livro do Desassossego
A sua leitura e a do autor
“O que faz quando lê? Vou dar-lhe já a
resposta: a sua leitura deixa de lado aquilo que não lhe convém. O mesmo fez já
o autor antes. Omitem-se também coisas nos sonhos e na imaginação. Daqui
concluo: a beleza ou a excitação aparecem no mundo por omissão. Parece evidente
que o modo como nos situamos na realidade corresponde a um compromisso, um
estado intermédio em que os sentimentos se impedem mutuamente de chegar a
paixões e se misturam em tons de cinzento. As crianças que desconhecem este
modo de estar no mundo são, por isso, mais e menos felizes do que os adultos. E
acrescento já: também as pessoas estúpidas omitem; como se sabe, a estupidez
faz-nos felizes”.
Robert
Musil, in O Homem sem Qualidades
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Sísifo
Imagem: Google
E se não posso
Erguer a pedra
até o alto
Sem que ela role
de volta,
Não desespero.
Basta-me poder
erguê-la,
Basta a luta
Para
me encher o coração!
Giánnis Kamarinákis
A nossa superficialidade e mesquinhez
“Nós
combatemos a nossa superficialidade, a nossa mesquinhez, para tentarmos chegar
aos outros sem esperanças utópicas, sem uma carga de preconceitos ou de
expectativas ou de arrogância, o mais desarmados possível, sem canhões, sem
metralhadoras, sem armaduras de aço com dez centímetros de espessura;
aproximamo-nos deles de peito aberto, na ponta dos dez dedos dos pés, em vez de
estraçalhar tudo com as nossas pás de catterpillar, aceitamo-los de mente
aberta, como iguais, de homem para homem, como se costuma dizer, e, contudo,
nunca os percebemos, percebemos tudo ao contrário.
Mais
vale ter um cérebro de tanque de guerra. Percebemos tudo ao contrário, antes
mesmo de estarmos com eles, no momento em que antecipamos o nosso encontro com
eles; percebemos tudo ao contrário quando estamos com eles; e, depois, vamos
para casa e contamos a outros o nosso encontro e continuamos a perceber tudo ao
contrário.
Como,
com eles, acontece a mesma coisa em relação a nós, na realidade tudo é uma
ilusão sem qualquer percepção, uma espantosa farsa de incompreensão. E,
contudo, que fazer com esta coisa terrivelmente significativa que são os
outros, que é esvaziada do significado que pensamos ter e que, afinal, adquire
um significado lúdico; estaremos todos tão mal preparados para conseguirmos ver
as ações íntimas e os objetivos secretos de cada um de nós? Será que devemos
todos fecharmo-nos e mantermo-nos enclausurados como fazem os escritores
solitários, numa cela à prova de som, evocando as pessoas através das palavras
e, depois, afirmar que essas evocações estão mais próximas da realidade do que
as pessoas reais que destroçamos com a nossa ignorância, dia após dia?
Mantém-se o fato de que o compreender as pessoas não tem nada a ver com a vida.
O não as compreender é que é a vida, não compreender as pessoas, não as
compreender, e depois, depois de muito repensar, voltar a não as compreender. É
assim que sabemos que estamos vivos: não compreendemos. Talvez o melhor fosse
não ligar ao fato de nos enganarmos ou não sobre as pessoas e deixar andar. Se
conseguirem fazer isso - estão com sorte”.
Philip Roth, in Pastoral
Americana
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
A fúria cega à caça do dinheiro
Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça
do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da
incompreensão de nossa época. Eles esquecem o que têm de de mais humano e
sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações
de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há
mais almas humanas para morar neles?
Quero que
abras os olhos, Eugênio, que acordes enquanto é tempo. Peço-te que pegues a
minha Bíblia que está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o
Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com
uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente
no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo, que não trabalham, nem
fiam, e no entanto nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como
um deles.
Está claro que
não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à
espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de
criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos,
entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao
dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para
olhar os lírios do campo e as aves do céu.
Não penses
que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia,
ou acho que o povo deva viver narcotizado pela esperança da felicidade na
“outra vida”. Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres
fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os
aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e
as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes
frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do
ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão. Considera
a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um puro
contemplativo.
Quando falo
em conquista, quero dizer a conquista duma situação decente para todas as
criaturas humanas, a conquista da paz digna, através do espírito de cooperação.
E quando
falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas
as desigualdades e malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à
aceitação da luta necessária, do sofrimento que essa luta nos trará, das horas
amargas a que ela forçosamente nos há de levar.
Érico Veríssimo, in Olhai os lírios do campo
Zé Galinha e a graúna
Uma
turma de amigos estava colocando o papo em dia na Sorveteria Polo Norte, em Pau
dos Ferros e, evidentemente, tomando umas geladas para espantar o calor naquela
tarde em que o mormaço imperava.
Eis
que surge Zé Galinha, notório pelas mentiras, apressado. Dr. Geraldo Torquato,
Promotor de Justiça da cidade à época, aproveitou a oportunidade e cutucou a
fera:
-
Ô Zé Galinha, que pressa é essa, homem? Senta aqui, tome uma cervejinha com a
gente e conte uma mentira!
-
Posso, não, doutor. Não tenho tempo pra isso não. Não tá vendo meu aperreio? É
que tou procurando minha graúna que fugiu de casa com gaiola e tudo.
E lá se foi o diligente Falacioso à
procura do inatingível.
Elilson
José Batista, in Inéditos e Afins
As duas espécies de cóleras
Podemos distinguir duas
espécies de cólera: uma que é muito súbita e se manifesta muito no exterior, mas mesmo assim tem pouco efeito e
pode facilmente ser apaziguada; e outra que inicialmente não aparece tanto,
porém corrói mais o coração e tem efeitos mais perigosos. Os que têm muita
bondade e muito amor são mais sujeitos à primeira. Pois ela não provém de um
ódio profundo, e sim de uma súbita aversão que os surpreende, porque, sendo
levados a imaginar que as coisas devem desenrolar-se da forma como julgam ser a
melhor, tão logo acontece de forma diferente; eles ficam admirados e
frequentemente se ofendem com isso, mesmo que a coisa não os atinja
pessoalmente, porque, tendo muita afeição, interessam-se por aqueles a quem
amam, da mesma forma que por si mesmos. Assim, o que para outra pessoa seria
apenas motivo de indignação é para eles um motivo de cólera. E como a
inclinação que têm para amar faz que tenham muito calor e muito sangue no
coração, a aversão que os surpreende não pode impelir para este tão pouca bile
que isso não cause inicialmente uma grande emoção no sangue. Mas tal emoção
pouco dura, porque a força da surpresa não se prolonga e porque, tão logo
percebem que o motivo que os contrariou não devia emocioná-los tanto,
arrependem-se disso.
A
outra espécie de cólera, em que predominam o ódio e a tristeza, não é tão aparente
no início, a não ser talvez fazendo o rosto empalidecer. Mas pouco a pouco a
sua força é aumentada pela agitação que um ardente desejo de vingar-se excita
no sangue, que, estando misturado com a bile que é impelida da parte inferior
do fígado e do baço para o coração, excita nele um calor muito áspero e muito
picante. E, assim como as almas mais generosas são as que sentem mais
reconhecimento, assim as que têm mais orgulho, e que são mais baixas e mais fracas, são as que mais se
deixam arrebatar por essa espécie de cólera; pois as injúrias parecem tanto
maiores quanto mais o orgulho faz que nos estimemos; e também na medida em que
mais estimamos os bens que elas arrebatam, os quais tanto mais estimamos quanto
mais fraca e mais baixa tivermos a alma, porque eles dependem de outrem.
René Descartes, in As Paixões da Alma
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Novo livro de Galeano mescla poesia, ensaio e crônica
“Os filhos dos dias” emprega formato de calendário para
contar uma história para cada dia do ano. Primeira página deseja que o dia seja
alegre como as cores de uma quitanda.
Os filhos dos dias é o mais novo livro do jornalista e escritor
uruguaio Eduardo Galeano, que vive, caminha e escreve em Montevidéu, aos 72
anos, e segue como um dos grandes nomes da intelectualidade contemporânea.
Galeano escreveu o clássico moderno As veias
abertas da América Latina - denunciando a
exploração europeia – e já recebeu prêmios importantíssimos como o Casa de las
Américas de Cuba, o Dagerman da Suécia e o Cultural Freedom Prize, da Lannan
Foundation dos Estados Unidos.
Sua obra mescla, sem medo e sem cerimônia, com criatividade, gêneros
literários diversos, como a poesia, a narração, o ensaio e a crônica. Memórias
e memórias inventadas também entram, claro. Ao longo de várias décadas de
trabalho, Galeano notabilizou-se por recolher as vozes e as almas das ruas em
obras como Bocas do
tempo, De pernas pro
ar, Futebol ao
sol e à sombra e O livro dos
abraços.
Nessa nova obra, Os filhos dos dias, Galeano
utilizou o formato de calendário para contar uma história para cada dia do ano.
Na primeira página ele deseja que o dia seja alegre como as cores de uma
quitanda. Na última, ele fala de morte, de febre terçã e da palavra
abracadabra, que, em hebraico queria dizer e continua dizendo: envia o teu fogo
até o final. Pois é, para o dia 16 de julho, Galeano traz a história daquele
jogo da Seleção Brasileira contra o Uruguai em 1950, quando o Maracanã abrigou
duzentas mil estátuas de pedra. Para o 1 de abril não há história de bobos.
O escritor narrou o episódio do desembarque do primeiro bispo do Brasil,
Pedro Sardinha – em 1553 – e que, três anos depois, teria sido devorado pelos
caetés no Sul de Alagoas e inaugurado, assim, a gastronomia nacional. Para 19
de fevereiro, Galeano trouxe um diálogo-desafio terrível entre o consagrado
escritor Horacio Quiroga e a morte. Para o dia 14 de abril, o escritor contou a
história de Nellie Bly – a mãe das jornalistas -, que mostrou, em 1889, dando a
volta ao mundo e reportando a viagem, que jornalismo não era só coisa de homem.
Em 1919, ela publicou suas últimas reportagens, desviando das balas da Primeira
Guerra Mundial.
Como se vê, Galeano abraçou a diversidade de povos e culturas, contando
episódios que vão de 1585, no México, até, por exemplo, o 15 de setembro de
2008 na Bolsa de Nova Iorque, passando pela morte de John D. Rockefeller, em
1937, e muitos outros. L&PM Editores, 432 páginas, R$ 49,00, tradução de
Eric Nepomuceno.
Por Jaime Cimenti, no blog da L&PM
7 edifícios que desafiam as leis da Física
Quando alguns
arquitetos começam a projetar um novo prédio, eles estão menos preocupados com
a funcionalidade e mais interessado em criar uma peça maciça de arte. Às vezes, os desenvolvedores não vai
deixar uma coisa muito desagradável como a gravidade ficar no caminho de sua
visão conceitual. Se as leis da
física tinham uma palavra a dizer na matéria, esses edifícios, provavelmente
não existiria. Mas por que deixar
a física ficar no caminho?
Esta antiga casa flutuante parece
mais em casa no jogo de Dune que na Ucrânia.
A forma bizarra do Amesterdan Apartamentos WoZoCo é o resultado do desejo de um cliente para criar
um edifício que abrigava 100 unidades, proporcionando boa iluminação e uma
espaçosa área verde comum. A fim de poupar a terra em uma cidade
já apertada, as unidades 13 projetam-se da parte da frente do edifício.
O casal alemão que construiu esta casa intitulado "O mundo está de cabeça para baixo" em uma ilha no Mar Báltico fez isso por um
capricho. Eles
não têm nenhum tipo de grande declaração em mente quando construiu a casa e
mobiliado com móveis de cabeça para baixo, tornando-o quase totalmente
inabitáveis.
Apenas olhando para Roterdan Kubuswoningen , ou "casas cubo" é suficiente para
causar vertigem.
O “Celeiro balanceamento” em Suffolk, Inglaterra, parece que poderia tombar
a qualquer momento. Em pé sob o
beiral grave deve causar um profundo sentimento de mal-estar, mas isso não
impediu que o proprietário fizesse um balanço pendurado fora dele.
É desconhecido se for o caso de estudantes de
arquitetura da Universidade de Cincinnati decidirem mudar de classe do falecido
professor Terry Brown depois de ver que uma das casas que ele projetou para si
mesmo era um cogumelo enorme apoiado por apenas uma pequena haste. Ou talvez este feito fez com que os
alunos quisessem estudar com ele em primeiro lugar.
As Casas Free Spirit encontrados em British Columbia, no Canadá, são
perfeitos para adultos que passaram a infância desejando que eles poderiam se
mover permanentemente em suas casas de árvores. Essas esferas são projetados para ser
pendurado de uma árvore ou a borda do penhasco e tendem a balançar e balançar
com cada vento forte. Boa sorte
para conseguir um homem de manutenção para chegar e trabalhar lá.